quinta-feira, 21 de julho de 2011

Lutas no Rio de Janeiro: apontamentos sobre a atual conjuntura



Ao se colorir de vermelho, neste último mês de junho, o Rio de Janeiro mostrou que a antiga “caixa de ressonância” brasileira pode - ainda - irradiar sinais de luta, esperança, sentimentos de solidariedade, revolta e indignação quando experimenta uma covarde e fascista investida do governo Sérgio Cabral contra aqueles que não usam “black tie”.


Bombeiros, educadores, estudantes, trabalhadores, sem-tetos, pobres e desempregados têm sido alvo de violência e toda sorte de humilhações, praticadas pelo governo estadual, que primeiro com apoio de Lula e agora com Dilma, prepara o Rio para os megaeventos esportivos às custas do aumento da exploração e repressão aos trabalhadores. Uso de força, spray de pimenta em crianças, projéteis verdadeiros e prisões sumárias povoam o cotidiano do estado do Rio.


Não é de hoje que a arrogância e violência são a cara do governo Cabral. Profissionais da Educação já foram intimidados com armas de fogo nas lutas por salários mais dignos. Mais recentemente, 13 manifestantes foram presos sumariamente por protestar contra a vinda do presidente estadunidense, Barack Obama, ao Rio. A repressão aos sindicalistas e ao movimento de trabalhadores sem-terra nas manifestações contra os leilões do petróleo foi mais um exemplo desta escalada de violência. O caso do assassinato de Juan, menino de 11 anos, seguido do sumiço do seu corpo, após uma operação policial na Favela Danon, em Nova Iguaçu, mostra trágica rotina nas favelas do Rio.


No caso da recente greve dos bombeiros, o governador, já acostumado ao poder desmedido e a truculência como métodos para resolver negociações salariais, carregou na dose e não vacilou em usar o Bope para acabar com a ocupação do quartel. A sua arrogante e autoritária entrevista na mídia burguesa veiculada em cadeia nacional, chamando os bombeiros de vândalos, não deixou dúvidas do autoritarismo do governador.


Daí para frente não pararam as denúncias de concessões, viagens, enriquecimentos ilícitos, e a acelerada transformação do Rio num balcão de negócios para os grandes empresários do país. Do outro lado da moeda, salários aviltantes e as precárias condições de trabalho. Bombeiros e educadores são apenas exemplos de como o estado trata seus servidores e os serviços essenciais para população.


O Coletivo Marxista esteve presente desde a primeira manifestação em frente à Alerj, logo após a invasão do Bope ao quartel ocupado pelos bombeiros, declarando seu apoio à luta da categoria, solidariedade e indignação contra esta brutal violência praticada pelo Estado. É preciso que façamos uma avaliação profunda do que significou este primeiro momento de radicalização das lutas e que tipo de perspectiva se abriu a partir daí.


No campo da esquerda combativa, abriu-se um amplo leque de avaliações, que passaram pela comparação da Alerj com a Praça Tahrir até a defesa de não-apoio à luta dos bombeiros por conta de sua caracterização como força repressora do Estado. O apoio de membros da polícia militar reforçou esta avaliação. Na dinâmica da luta, o exemplo de combatividade dos bombeiros inflamou e fortaleceu a luta dos profissionais da Educação que, após a deflagração da greve na assembléia mais cheia do período recente, somaram-se às manifestações.


De nosso ponto de vista, uma postura coerente com este momento de lutas e suas características específicas deve construir a intervenção militante a partir de uma rigorosa avaliação conjuntural, política, teórica e histórica. A reflexão deve, portanto, levar em conta o caráter das lutas que despontaram, o papel da corporação dos bombeiros no Estado, sua relação com o aparato repressivo, a conjuntura política que se abriu a partir daí e, também, o acúmulo produzido pela esquerda marxista no que diz respeito às mobilizações militares e às lições históricas que se tiraram daí.


A combinação desses elementos, acreditamos, é o que permite a construção de uma posição política que não se paute pela transposição mecanicista de postulados gerais e abstratos. Essa tarefa exige que entendamos, ainda, as relações entre a consciência e a espontaneidade, que acompanha um militante na histórica trajetória das lutas de classe. Este desafio exige esforço, consciência revolucionária e a certeza de que o trabalho esbarra nos limites dos movimentos de massa exigindo a necessária aplicação da máxima, que guia nossa intervenção, não como jargão, mas como parâmetro de militância: “Sem teoria revolucionária não há prática revolucionária”.


Espera-se também, que tenha sensibilidade para defender a massa trabalhadora, e apoiar suas lutas, respeitando seus limites, mas – sempre – servindo como catalisador, agente essencial para a elevação da consciência. Cumpre a difícil e sempre presente tarefa de explicitar a necessária conexão entre as reivindicações imediatas e a luta política. Diferentes militantes de esquerda participaram no movimento com esta atuação.


Para o Coletivo Marxista, a mobilização iniciada com a luta dos bombeiros foi capaz de, a partir da legítima luta da categoria por melhores salários, expressar contradições mais profundas do governo Cabral e, assim, impulsionar não apenas outras lutas no campo econômico – de outras categorias do funcionalismo, sobretudo da educação, por melhores salários – mas, também, criar condições para o enfrentamento político ao governo Cabral.


Tornou-se fundamental, então, intervir no processo específico dos bombeiros prestando solidariedade, fortalecendo suas mobilizações e discutindo questões que se puseram na ordem do dia através do processo de lutas – como a desmilitarização dos bombeiros, que garantiria seu direito à organização sindical – e, mais do que isso, construindo uma perspectiva de unificação das lutas, capaz de demonstrar que a garantia de melhores condições de trabalho e de vida passa, necessariamente, pelo enfrentamento ao governo que reprime trabalhadores, os mantém com salários indignos e está comprometido com os interesses dos grandes empresários. A unificação das categorias como um passo fundamental para a conquista das reivindicações específicas e, no mesmo processo, para o enfrentamento político ao governo constitui-se, portanto, no maior desafio colocado pela atual conjuntura.


Sabemos da necessidade e dificuldade de impulsionar movimentos de massa protagonizados por uma população bombardeada por Faustão, Pedro Bial, Luciano Huck, Galvão Bueno, novela das 21h e domesticada pelo governo de Lula. Esta é a dificil tarefa da esquerda brasileira: resgatar a combatividade nas manifestações e mostrar a correção na escolha do caminho da luta política. O Coletivo Marxista, defendendo o “Fora Cabral” em suas intervenções, deu um passo à frente nas lutas por melhores salários unificadas à reivindicação política.


Cabe, neste momento, uma atuação empenhada de todos os militantes comunistas que têm e terão a dificil tarefa de mostrar aos trabalhadores a necessidade e o lugar da luta política. A solidariedade da população fluminense, o crescimento do movimento, os atos conjuntos com os profissionais de educação e o atual fortalecimento da greve com o acampamento em frente à Secretaria de Educação são sinais embrionários de politização e unificação real das lutas dos trabalhadores. Saldo positivo mais imediato deste processo, que permitiu que o Rio vivenciasse uma manifestação com dezenas de milhares de participantes e recoloca a discussão do papel e lugar da militância de esquerda como agente necessário para o avanço da lutas e sua organização e real unificação.


O movimento, somado às denúncias de corrupção que não param de aparecer, colocou o governo Cabral na defensiva. É precisamente este o momento de radicalizar mais: fortalecer as lutas nas categorias, arrancar vitórias e derrubar este governo. A presidenta Dilma/PT, ao aparecer na recente inauguração do teleférico do Complexo do Alemão junto a Cabral, deixa bem claro de que lado está: do lado de um governo que, como o seu, não consegue mais encobrir os infinitos negócios escusos da burguesia.


As greves dos bombeiros e agora dos profissionais da Educação ocorrem num momento especial: Rio em ritmo de Copa e Jogos Olímpicos, virando um balcão de negócios e oportunidades para as burguesias nacional e internacional. Especulação imobiliária, reorganização urbana, aumento estratosférico de alugueis, valorização especulativa dos imóveis, aumento generalizado do custo de vida, dos serviços, da alimentação... Complementados por arrocho salarial, despejos, criminalização da pobreza e dos movimentos sociais! No Brasil, explodem greves em defesa da educação, de operários e outras categorias que também já não suportam sustentar o alardeado ‘crescimento’ com sua exploração. Essas lutas também precisam ser unificadas com pautas gerais para ganhar mais consistência. Pelo mundo, os efeitos da crise levam milhões às ruas em defesa de seus direitos e contra a ordem dos ricos.


Num sopro de esperança equilibrista, o Rio veste-se de um vermelho acendendo a fagulha da combatividade, dos movimentos nas ruas e, quem sabe, voltará a se colorir do vermelho intenso comunista, trazendo para as ruas trabalhadores e jovens que lutem e conquistem o sonho da urgente e necessária transformação do modelo de sociedade.


À luta e às ruas, companheiros!

Um comentário:

AF Sturt Silva disse...

Reproduzimos a nota de vcs, no Diário liberdade!

Sturt Silva

http://www.diarioliberdade.org/index.php?option=com_content&view=article&id=17791&Itemid=176&thanks=13