segunda-feira, 24 de setembro de 2012

A morte de um historiador militante





O marxista Eric Hobsbawm, que morreu aos 95 anos de idade na última segunda-feira, foi sem dúvida um dos mais marcantes historiadores do século XX. Filho de britânicos que residiam em Alexandria, no Egito, Hobsbawm nasceu em 1917, cinco meses antes da Revolução de Outubro na Rússia. Mas foi na Alemanha da República de Weimer, no início dos anos 30, que o então estudante consolidou sua opção pela luta da classe trabalhadora. Ainda com 14 anos, ingressou no Partido Comunista Alemão e, em 1933, vivenciou a ascensão de Adolph Hitler ao poder, após anos de acirrada disputa política em que a luta de classes tomou contornos bastante dramáticos. A situação lhe obrigou a fugir para a Inglaterra, onde concluiu sua formação em História. Décadas mais tarde, Hobsbawm comentou sua fuga da Alemanha: "qualquer um que viu a ascensão de Hitler em primeira mão não poderia ter sido ajudado, mas moldado por isso, politicamente. Esse garoto ainda está aqui dentro em algum lugar - e sempre estará".

Hobsbawm ingressou no Partido Comunista da Grã-Bretanha em 1936, permanecendo nele por décadas, mesmo desiludido com os rumos do bloco soviético. Começou a dar aulas em 1947, mas só recebeu promoção em 1970, atraso que ele atribuiu às perseguições políticas que sofrera. Formou um grupo de estudos históricos marxistas junto com Christopher Hill, Edward Thompson, Perry Anderson, Rodney Hilton, Dona Torr, dentre outros.

Foram suas aspirações políticas no presente que o levaram a buscar compreender o século XIX. Em 1962, Hobsbawm publicou o primeiro dos três volumes cobrindo o “longo século XIX”. Mais tarde, escreveria sobre o “breve século XX”. Diferente de muitos historiadores contemporâneos, não satisfazia-se em ser um especialista de períodos recortados, que ignoram todo o restante da história humana e o próprio mundo em que se vive. Hobsbawm deixava claro que a história não pertencia aos historiadores acadêmicos, mas que devia ser ferramenta da transformação social.

Um dos grandes méritos de Eric Hobsbawm foi ter conseguido levar seus livros para as estantes de milhões de leitores “não especializados” do mundo inteiro. Ao buscar abranger o amplo espectro histórico dos tempos modernos, com seus textos agradáveis, ricos em detalhes e em coerência, dizia que sua preocupação era estimular seus leitores a entender o mundo ao compreenderem a importância da História.

O Coletivo Marxista presta sua homenagem a Eric Hosbawm. Nos dias atuais, em que o passado tem se tornado apenas uma fonte de “curiosidades históricas”, aumentando as receitas dos mercados editoriais, ou usado a torto e “à direita” para sustentar os mais infames discursos de poder das classes dominantes, relembramos o que disse o historiador militante: “é comum hoje governos e meios de comunicação inventarem um passado. Estamos em uma idade em que o presente controla o passado. Altera-se a História para servir aos interesses de alguns poucos grupos. É vital o historiador lutar contra a mentira”!


Eric Hobsbawm, Presente!

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