O marxista Eric Hobsbawm,
que morreu aos 95 anos de idade na última segunda-feira, foi sem dúvida um dos
mais marcantes historiadores do século XX. Filho de britânicos que residiam em
Alexandria, no Egito, Hobsbawm nasceu em 1917, cinco meses antes da Revolução
de Outubro na Rússia. Mas foi na Alemanha da República de Weimer, no início dos
anos 30, que o então estudante consolidou sua opção pela luta da classe
trabalhadora. Ainda com 14 anos, ingressou no Partido Comunista Alemão e, em
1933, vivenciou a ascensão de Adolph Hitler ao poder, após anos de acirrada
disputa política em que a luta de classes tomou contornos bastante dramáticos. A
situação lhe obrigou a fugir para a Inglaterra, onde concluiu sua formação em
História. Décadas mais tarde, Hobsbawm comentou sua fuga da Alemanha:
"qualquer um que viu a ascensão de Hitler em primeira mão não poderia ter
sido ajudado, mas moldado por isso, politicamente. Esse garoto ainda está aqui
dentro em algum lugar - e sempre estará".
Hobsbawm ingressou no
Partido Comunista da Grã-Bretanha em 1936, permanecendo nele por décadas, mesmo
desiludido com os rumos do bloco soviético. Começou a dar aulas em 1947, mas só
recebeu promoção em 1970, atraso que ele atribuiu às perseguições políticas que
sofrera. Formou um grupo de estudos históricos marxistas junto com Christopher
Hill, Edward Thompson, Perry Anderson, Rodney Hilton, Dona Torr, dentre outros.
Foram suas aspirações
políticas no presente que o levaram a buscar compreender o século XIX. Em 1962,
Hobsbawm publicou o primeiro dos três volumes cobrindo o “longo século XIX”. Mais
tarde, escreveria sobre o “breve século XX”. Diferente de muitos historiadores
contemporâneos, não satisfazia-se em ser um especialista de períodos recortados,
que ignoram todo o restante da história humana e o próprio mundo em que se
vive. Hobsbawm deixava claro que a história não pertencia aos historiadores
acadêmicos, mas que devia ser ferramenta da transformação social.
Um dos grandes méritos
de Eric Hobsbawm foi ter conseguido levar seus livros para as estantes de
milhões de leitores “não especializados” do mundo inteiro. Ao buscar abranger o
amplo espectro histórico dos tempos modernos, com seus textos agradáveis, ricos
em detalhes e em coerência, dizia que sua preocupação era estimular seus
leitores a entender o mundo ao compreenderem a importância da História.
O Coletivo Marxista
presta sua homenagem a Eric Hosbawm. Nos dias atuais, em que o passado tem se
tornado apenas uma fonte de “curiosidades históricas”, aumentando as receitas
dos mercados editoriais, ou usado a torto e “à direita” para sustentar os mais
infames discursos de poder das classes dominantes, relembramos o que disse o
historiador militante: “é comum hoje governos e meios de comunicação inventarem
um passado. Estamos em uma idade em que o presente controla o passado.
Altera-se a História para servir aos interesses de alguns poucos grupos. É
vital o historiador lutar contra a mentira”!
Eric
Hobsbawm, Presente!
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