O Coletivo Marxista organizou no dia 23 de maio uma atividade para a necessária análise marxista da crise mundial do capitalismo. A mesa foi composta pela coordenadora de Movimento Estudantil, Leila Leal, pelo engenheiro Sérgio Antão, dirigente da Polop na década de 1980, e pela professora da UFRJ e militante do Coletivo Marxista, Vera Salim.
Sérgio Antão Paiva iniciou o debate destacando que 80 anos depois da crise de 1929, vivenciamos uma nova crise mundial do capitalismo tendo os EUA no seu epicentro, destacando que ela ocorre quando o mundo parecia imune às crises, em função da intervenção dos governos. Na sua intervenção, Sergio Paiva analisou as origens superficiais e estruturais da crise, evidenciando a estagnação nos países centrais, seus reflexos nos países periféricos, as perspectivas para a classe trabalhadora e finalizou discutindo a manutenção ou declínio do capitalismo.
Ao analisar as origens superficiais da crise enfatizou a armadilha de liquidez, que se dá quando o FED (Federal Reserve, o Banco Central estadunidense) inunda o mundo com dólares para injetar liquidez na economia e os bancos, ao invés de emprestarem, entesouraram e não renovaram os empréstimos. Segue-se a insolvência dos principais bancos americanos sendo destacado que o custo potencial do socorro aos bancos já é estimado em US$ 5,1 trilhões.
Ao se alastrar pelo mundo e para a economia real (indústria automobilística, depressão na economia, desemprego e queda dos salários), a crise mostra de forma incontestável suas origens estruturais, explicitando a contradição fundamental do capitalismo: a produção cada vez mais social e a apropriação cada vez mais privada. “Nos Estados Unidos, maior nação representante do capitalismo, a média salarial na década de 1960 era de $8,99/hora; em 2006, $8,24/hora. No geral, a massa salarial dos trabalhadores encontra-se estagnada ou diminuída”, destacou Sérgio.
O capital tem formas de reverter momentaneamente esta situação: esforços de venda, aumento de publicidade, crédito e endividamento das famílias, aumento de fronteiras de acumulação capitalista, guerras. Sergio Antão mostrou ainda que o capital monetário evolui a uma taxa superior a da mais-valia, tornando-se cada vez mais fictício: “em torno de US$ 1,2 trilhão terá que ser esterilizado para limpar o excesso da última década”, frisou. Ao analisar os efeitos da crise nos países centrais mostra que a tendência seguida é a mesma: privatização dos lucros e socialização dos prejuízos.
Os efeitos da crise nos países periféricos apontam para o declínio das exportações de commodities primárias, o que coloca em xeque a estratégia de crescimento via exportações e o declínio dos preços de commodities, demonstrando que a divisão internacional do trabalho (ex.: produção de automóveis no Brasil) torna maior os efeitos da depressão, em função da dependência do mercado externo. Como resultado espera-se: crescimento negativo, desemprego (10% no Brasil), especialmente na indústria metalúrgica e automobilística, a redução dos salários e direitos dos trabalhadores. O crescimento negativo força o setor produtivo a ingressar no setor financeiro. A análise dos dados recentes, incluindo a divulgação de queda de 0,8% do Produto Interno Bruto brasileiro no primeiro trimestre confirma: o país encontra-se em recessão.
A mesa, composta pelo Engenheiro Sergio Antão (azul); pela estudante Leila Leal (centro); e pela Professora Vera Salim (vermelho).
Estamos diante da crise final do capitalismo?
O capitalismo não cai se não for derrubado!
A ideologia burguesa foi colocada na defensiva. Pela primeira vez em 20 anos são contestados os mitos da auto-regulação pelo mercado, das privatizações e da capacidade do Estado evitar crises econômicas. No Brasil, o modelo de conciliação de classes está ameaçado, mas a ausência de lutas de massa e da consolidação de uma vanguarda de esquerda, capacitada para catalisar e impulsionar mobilizações da classe trabalhadora nesse cenário de crise impossibilita a necessária transformação revolucionária para a superação do capitalismo. “Com 200 anos de vida o capitalismo nada mais tem a oferecer para o desenvolvimento da humanidade”, destacou Sérgio Antão.
A Professora da UFRJ e coordenadora de Movimento Sindical do Coletivo Marxista, Vera Salim, começou citando o local onde o evento fora realizado, o campus Praia Vermelha da UFRJ, “palco de tanta lutas libertárias e que hoje, graças à adequação da UFRJ ao modelo neoliberal de universidade, torna-se para nós um símbolo de resistência, já que o plano diretor da UFRJ pretende ‘readequar’ o campus, criando aqui um Centro Cultural e de Convenções privado, Hotel-Escola e estacionamento!”.
Ao realizar a análise da crise, frisou que precisamos realizar uma análise concreta da realidade concreta e, lembrando Eric Sachs, afirmou: marxismo é antes de tudo um método não dogmático de interpretação e intervenção numa realidade, que não nos autoriza a realizar transposições mecânicas de experiências históricas.
Ao analisar as conseqüências políticas de uma determinada realidade econômica, afirmou que a uma análise de conjuntura devem corresponder táticas adequadas de luta, pois se somos comunistas estudamos a realidade para transformá-la e usamos uma análise de conjuntura para retirar dela respostas e táticas concretas. Se, ao analisar as características especiais do Brasil, reconhecemos que mais uma vez os trabalhadores pagarão pela sobrevida do capital e que o governo Lula, o PT e a CUT, são agentes da manutenção da ordem capitalista, como deve atuar uma vanguarda política? Esperando que as massas façam sua experiência ou denunciando e organizando a luta e a defesa da classe trabalhadora?
Defender os trabalhadores é retirar as ilusões que ainda depositam no Governo Lula, é denunciar o papel da CUT e do PT e, mais, é criar novas organizações que possibilitam o avanço das lutas de classe e não a conciliação com o capital. Só assim estaremos construindo os caminhos para colocar as lutas de classe num novo patamar.
Proletários de todo o mundo, uni-vos!
Esta é a máxima do Manifesto Comunista. É claro que queremos e lutamos pela unidade, mas a unidade proletária, dos trabalhadores para o enfrentamento concreto contra o capital. A unidade que precisamos construir deve se dar em marcos estratégicos que apontem para a construção de uma sociedade baseada em princípios comunistas, superando o capitalismo que se alimenta e se reproduz de guerras e da miséria.
Após as falas dos palestrantes, os presentes fizeram inúmeras intervenções contribuindo para a qualidade do debate, que foi finalizado enfatizando a importância de organizar de maneira independente e autônoma a classe trabalhadora, demonstrando que a luta econômica que o trabalhador deve travar necessariamente se choca e é contra os agentes econômicos do capital e seus agentes políticos. No Brasil, identificar o Governo Lula/PT e seus fiéis aliados na UNE e na CUT não basta. É preciso construir alternativas de luta que se organizem de forma autônoma e contra esses organismos.
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