domingo, 28 de junho de 2009

Marxismo Militante - 2ª edição

Jornal do Coletivo Marxista – Ano II – Número 2 – Junho/2009






Crise do capitalismo



É preciso construir uma resposta política proletária e independente


Os efeitos da crise econômica internacional já são incontestáveis. As próprias estatísticas burguesas revelam que a situação se agrava de forma drástica. Já há mais de 1 milhão de demissões e o fechamento de 700 mil postos de trabalho. Os pacotes dos governos para salvar a burguesia já extrapolam a ordem dos trilhões de dólares. No Brasil, o governo Lula já liberou cerca de 300 bilhões para as empresas, 160 bilhões para bancos e 8 bilhões para montadoras de automóveis. E o BNDES já anunciou mais 130 milhões para grandes empresas.


Sabemos que as crises econômicas são inerentes ao capitalismo, e que o sistema encontra formas de superar essas crises, reestruturando-se e assumindo novas formas que adiam sua extinção, mesmo que sejam incapazes de superar suas contradições fundamentais. Os números da atual crise são alarmantes e demonstram que ela atinge todas as esferas e setores da atividade produtiva e reprodutiva do sistema mundial, o que a configura como uma crise estrutural do sistema.






Crise estrutural: o capitalismo só cai se for derrubado!



As origens superficiais da atual crise apontam para a armadilha de liquidez, que se dá quando o FED (Federal Reserve, o Banco Central estadunidense) inunda o mundo com dólares para injetar liquidez na economia e os bancos, ao invés de emprestarem, entesouram e não renovam os empréstimos. Segue-se a insolvência dos principais bancos americanos, sendo destacado que o custo potencial do socorro aos bancos já é estimado em US$ 5,1 trilhões.

Ao se alastrar pelo mundo e para a economia real (indústria automobilística, depressão na economia, desemprego e queda dos salários), a crise mostra de forma incontestável suas origens estruturais, explicitando a contradição fundamental do capitalismo: a produção cada vez mais social e a apropriação cada vez mais privada. Nos Estados Unidos, maior nação representante do capitalismo, a média salarial na década de 1960 era de $8,99/hora; em 2006, $8,24/hora. No geral, a massa salarial dos trabalhadores encontra-se estagnada ou diminuída. O capital tem formas de reverter momentaneamente esta situação: esforços de venda, aumento de publicidade, crédito e endividamento das famílias, aumento de fronteiras de acumulação capitalista, guerras. O capital monetário evolui a uma taxa superior à da mais-valia, tornando-se cada vez mais fictício.

Os efeitos da crise nos países periféricos apontam para o declínio das exportações de commodities primárias, o que coloca em xeque a estratégia de crescimento via exportações e o declínio de seus preços, demonstrando que a divisão internacional do trabalho (ex.: produção de automóveis no Brasil) torna maior os efeitos da depressão, em função da dependência do mercado externo. Como resultado espera-se: crescimento negativo, desemprego (10% no Brasil), especialmente na indústria metalúrgica e automobilística, a redução dos salários e direitos dos trabalhadores. O crescimento negativo força o setor produtivo a ingressar no setor financeiro. A análise dos dados recentes, incluindo a divulgação de queda de 0,8% do Produto Interno Bruto brasileiro no primeiro trimestre confirma: o Brasil encontra-se oficialmente em recessão.

A ideologia burguesa foi colocada na defensiva. Pela primeira vez em 20 anos são contestados os mitos da auto-regulação pelo mercado, das privatizações e da capacidade do Estado evitar crises econômicas. No Brasil, o modelo de conciliação de classes está ameaçado, mas a ausência de lutas de massa e da consolidação de uma vanguarda de esquerda, capacitada para catalisar e impulsionar mobilizações da classe trabalhadora nesse cenário de crise, impossibilitam a necessária transformação revolucionária para a superação do capitalismo.




Proletários de todo o mundo, uni-vos!




Está clara a necessidade de organização dos trabalhadores e da juventude para enfrentar à altura a crise do capitalismo. Como vimos, os ataques já são aprofundados e a projeção para o próximo período só apontam para o agravamento da situação. Nesse sentido, é essencial que façamos aqui uma profunda reflexão sobre a necessária construção da resposta política à crise.


O que assistimos, lamentavelmente, na formulação da resposta política da esquerda para crise? Mais uma vez, a incorreta opção pelo estabelecimento de unidades rebaixadas, que em nada contribuem para o avanço de consciência e da luta dos trabalhadores e da juventude. Mais uma vez, observamos PSTU e PSOL optando por construir atos de propaganda em unidade com PT, PCdoB, CUT e UNE, poupando o governo e atacando em abstrato os ricos. E quem é o grande representante político dos interesses dos ricos, senão o governo Lula? Identificando o grande diferencial do governo Lula, estamos certos de que o nível de avanço de consciência e a possibilidade de arrancar vitórias concretas passa, necessariamente, por lutar contra os ataques de Lula e seus agentes no movimento social, construindo uma pauta política que onere e derrote os empresários, os banqueiros e o governo e avance na construção de alternativas independentes e de luta para o movimento social.


“Proletários de todo o mundo, uni-vos!”. Esse é o célebre final do Manifesto Comunista. É claro que queremos e lutamos pela unidade, mas a unidade proletária, dos trabalhadores para o enfrentamento concreto contra o capital. A unidade que precisamos construir deve se dar em marcos estratégicos que apontem para a construção de uma sociedade baseada em princípios comunistas, superando o capitalismo, que se alimenta e se reproduz através de guerras e da miséria.


Formação

A história e a contribuição da

Organização Revolucionária Marxista - Política Operária




Resgatar a história da Organização Revolucionária Marxista - Política Operária (Polop) não é uma simples homenagem do Coletivo Marxista a esta importante organização política que influenciou profundamente a esquerda revolucionária brasileira. Ao publicar nosso primeiro artigo sobre a história da Polop, num jornal intitulado Marxismo Militante (nome da Revista da Organização), fazemos, também, uma homenagem a seu principal militante e quadro teórico, Eric Czaczkes, precisamente no ano de 2009, quando completam-se 70 anos de sua chegada ao Brasil. Judeu austríaco, Eric Czaczkes (naturalizado Eric Sachs, nome de guerra Ernesto Martins) chega ao Brasil escapando das perseguições do nazismo e do stalinismo, com apenas 16 anos de idade.

No entanto, é nosso objetivo maior recolocar na ordem do dia a importante tarefa de criar uma organização revolucionária alicerçada nos princípios teóricos da Polop, resgatando seus fundamentos e procurando caminhos para a continuidade da tarefa iniciada por seus militantes nos anos 60: a formação e a organização do proletariado brasileiro como classe autônoma e independente.

Pautar este debate exige que se analise a recente história da esquerda brasileira, pois só assim possibilitaremos que “o debate político atual não caia na vala comum, onde os problemas imediatos são tratados com critérios imediatos” para “elevá-lo à condição de um debate sobre problemas históricos tratados com critérios materialistas históricos”(1).

Resgatar a história da Polop e sua proposta política torna-se uma tarefa imprescindível no momento em que o sistema capitalista entra em crise e quando se constata, no Brasil, a capitulação e falência do PT, da CUT e da UNE, instrumentos de apoio e sustentação do Governo Lula, e quando uma equivocada atuação da esquerda hegemônica brasileira repete erros históricos pautados em transposições mecânicas de formas de luta para a realidade brasileira.

Coloca-se, mais uma vez, na ordem do dia a tarefa revolucionária identificada por Eric Sachs na sua chegada ao Brasil em 1939: a necessidade de criar uma organização que enraíze entre nós uma alternativa ideológica às duas vertentes hegemônicas do comunismo, o stalinismo e trotskismo. Vertentes estas caracterizadas como dois lados de uma mesma medalha em “Qual a Herança da Revolução Russa?”, na medida em que ambas olham a revolução mundial sob ângulos específicos da Revolução Russa.

A história da Polop é a história de uma organização pautada nos princípios de que o marxismo não é nem pode ser dogmático. Ela mostra que a principal tarefa dos comunistas brasileiros é saber aplicar a experiência do marxismo vivo à realidade brasileira e que, se queremos tirar lições para o futuro, temos de aprender a distinguir os aspectos especificamente russos da Ditadura do Proletariado Russa das formas que ela tomará em outras revoluções que se darão em circunstâncias diferentes.

A sociedade comunista, todos sabemos, se desenvolve sobre bases da sociedade capitalista da qual acaba de sair, herdando “os estigmas da sociedade que a engendrou” e “toda revolução exige um atuação criadora de sua vanguarda e a adaptação crítica das experiências do passado a uma realidade concreta” (2).

A militância de Eric Sachs se confunde com a história da Polop e nos deixa como legado o movimento político de maturação, a fundação desta organização e toda sua contribuição teórica e prática revolucionária. No relato abaixo, o próprio Ernesto Martins, em 1982, descreve o momento de sua fundação:

“Há vinte anos, entre 16 e 19 de janeiro de 1961, um grupo de jovens, em torno de 20 anos, em sua maior parte, estava reunido em Jundiaí para fundar a Organização Revolucionária Marxista - Política Operária , conhecida também nos anos futuros como Polop.

O Congresso de Fundação foi iniciativa de um grupo do Rio, que desde 1959 editava o boletim quinzenal Política Operária. O grupo do Rio tinha se originado da Juventude do Partido Socialista, tornando–se independente pelo fato de não endossar a candidatura do Marechal Lott à Presidência da República. Alugou uma sede própria, onde se reunia para conferências e debates. Com a publicação do boletim, atingiu grupos de jovens nos demais estados. Em São Paulo, existia um grupo que se considerava luxemburgista; em Minas, uma Juventude Trabalhista. Os contatos rapidamente se estenderam pelo país afora. A Bahia, por exemplo, participou das discussões com dois grupos, um em Ilhéus, outro em Salvador. Dentro de pouco criou-se o consenso da necessidade de formar uma organização nacional.”


As idéias básicas que uniam este grupo inicial eram:

· a condenação à política de colaboração de classe agenciada pelo PCB, PSB e PTB;
· a caracterização do caráter socialista da revolução brasileira;
· o reconhecimento da importância da classe operária como agente de formação de frente entre trabalhadores do campo e da cidade;
· a defesa da construção de um partido político da classe operária em oposição aos partidos burgueses;
· a independência frente aos Partidos Comunistas dos diversos países;
· a busca de uma análise concreta da situação concreta brasileira;
· a critica às deformações burocráticas dos Estados do campo socialista.



A luta pela liberdade de organização, o combate ao stalinismo e a diferenciação crítica do trotskismo, a necessária criação de um partido político representativo da classe proletária e em oposição aos partidos burgueses, a luta pela organização sindical independente e autônoma do proletariado e a organização independente dos estudantes brasileiros compunham a linha estratégica da Polop. A Organização influenciou profundamente a chamada esquerda revolucionária brasileira, foi um agente catalisador de debates e produção teórica, tendo influência marcante nas históricas greves operárias de Osasco e Contagem e no movimento estudantil de 1968 (2).

A consolidação da Ditadura Militar, a conseqüente depressão do movimento operário e estudantil, as prisões, exílios forçados e a clandestinidade dos militantes que optaram por permanecer no país selaram o destino da Organização. O grupo no exílio, aglutinado em torno de Ernesto Martins, em conjunto com os sobreviventes dentro do país, decidiram apoiar o PT, quando este era um ainda um projeto. A Polp dissolveu-se lentamente nos primeiros anos da década de 80 (2).

Resgatar esta experiência histórica é recolocar a discussão da criação de organismos de luta independentes e contrários à ideologia dominante pautada no ideário burguês. Hoje, quando as forças trotskistas hegemônicas na esquerda brasileira incorrem, novamente, em erros táticos históricos pautados na inobservância da dinâmica da luta de classe e no uso de táticas que não promovem a necessária independência ideológica e política da classe trabalhadora, resgatar e analisar a trajetória da Polop é uma importante tarefa política.


“O Marxismo é antes de tudo método e experiência aproveitada e acumulada”(3).


Resgatar este ensinamento é resgatar o método de desenvolver táticas conectadas a uma linha estratégica, é se afastar de imediatismos e da adoção do discurso fácil da ideologia do senso comum, que propõe a criação de uma unidade fictícia pautada em eixos que não promovem a real organização independente da classe trabalhadora e da juventude brasileiras.

Resgatar e aprender com a história da Polop é procurar caminhos que não coloquem, mais uma vez, o proletariado e a juventude brasileiras a reboque dos movimentos puramente agitativos, mas, sim, construir uma unidade proletária que nos permita “Andar com os Próprios Pés”!


Referências:

1) Andar Com Os Próprios Pés - Eric Sachs - nota dos Editores (citação livre) - 1994
2) Qual A Herança da Revolução Russa?- Eric Sachs -1988
3) Marxismo e Luta de Classe - Eric Sachs – 1987







Encruzilhada no Movimento Sindical:

Construir a unidade proletária ou abandonar os princípios classistas?




Elaborar uma tática - programa de lutas e defesa - para a classe trabalhadora brasileira é a mais urgente e prioritária tarefa pautada para o movimento sindical combativo num momento de crise mundial do capitalismo. Tarefa esta, no entanto, que não será cumprida sob o signo de imediatismo e com a idealista proposta de construção da “unidade” da classe trabalhadora nos marcos rebaixados propostos pelos setores hegemônicos da Conlutas. Proposta de fácil apelo que se materializa numa resposta vazia: uma unidade construída sem bases materiais resulta no imobilismo, enfraquecimento e recuo político do movimento sindical brasileiro.

A conformação desta “unidade” sem marcos políticos proletários definidos leva hoje a Conlutas, surgida como necessária alternativa de luta para o movimento sindical anti-governista, a abrir mão da clara crítica ao governo Lula , e a defesa de palavras de ordem gerais e sem propostas políticas, que se chocam com “os ricos” em abstrato em um momento tão definitivo para classe trabalhadora brasileira. Mais ainda: ao responder a crise mundial do capital com a elaboração de um abaixo-assinado que exige “do Congresso Nacional e do Sr. Presidente da República que sejam adotadas medidas para defender os trabalhadores e trabalhadoras e suas famílias frente aos efeitos da crise na economia”, abre mão das mais elementares formas de luta de movimento sindical combativo, que se expressaria na construção de lutas concretas, paralisações, atos em portas de fábrica e a defesa de palavras de ordem de propaganda, como a construção de uma greve geral, como legítimo instrumento de luta dos trabalhadores.



Miséria e circo para os trabalhadores!





A crise já produz mais de 2 milhões de desempregados no Brasil, índices oficiais do IBGE. No Rio de Janeiro, o governo de Sérgio Cabral e a prefeitura de Eduardo Paes privatizam a saúde, a cultura e a educação, negociam a venda do Galeão e acenam com a Copa de 2014! O presidente Lula, com altíssimos índices de popularidade, aconselha os trabalhadores a garantir seus empregos e a não lutar por reajustes salariais, ao mesmo tempo em que manda a classe trabalhadora comprar para que o país não entre em recessão.

É com esta realidade que devemos trabalhar! Realizar uma correta proposta de enfrentamento da crise exige retirar propostas concretas da conjuntura brasileira, que devem levar em consideração o papel do governo Lula, do PT e da CUT, e, mais ainda, as características próprias do movimento sindical brasileiro. Movimento sindical que, com seu histórico atrelamento ao Estado, não propiciou até hoje a formação de uma classe operária autônoma e com objetivos de luta desvinculados do movimento burguês e mais recentemente pequeno-burguês.

Diante desta conjuntura, que tática escolheremos? Aquela que denuncie e ajude a destruir a máquina sindical oficial, hoje materializada na CUT, ou a conciliação com esta importante máquina de domesticação do movimento sindical, a serviço do governo Lula e do imperialismo? Cinco anos já se passaram desde a fundação da Conlutas, quando a vanguarda do movimento sindical reconheceu que todas as centrais existentes não serviam aos interesses e objetivos da classe trabalhadora e identificou a falência da CUT. Pautados nesta constatação, os militantes que hoje integram o Coletivo Marxista defenderam e defendem a consolidação da Conlutas como uma central sindical, capaz de responder aos desafios impostos pela conjuntura, fazer avançar o nível de consciência da classe trabalhadora e promover sua necessária e concreta unificação.

Transformaremos a atual estrutura sindical brasileira sem apresentar uma clara proposta organizativa que se configure como um meio de atingir a classe operária e permita a desconstrução das ilusões que ainda deposita no governo Lula? Como fazer a ponte entre o movimento sindical e a massa trabalhadora reunida nos centros de produção? A diluição das lutas ou a tentativa de unificação artificial de lutas isoladas em uma conjuntura de descenso bloqueia a combatividade do processo de reorganização do movimento sindical e da esquerda. Ontem e hoje, a tarefa central do movimento sindical é organizar o proletariado e construir sua autonomia, com objetivos de luta independentes.

Quando a Conlutas, já no nascedouro, incorre em erros de conciliação, autoritarismo, aparelhamento e subordinação do movimento sindical a imediatistas interesses e acordos parlamentares e institucionais, comprova-se que não é uma simples mudança de forma organizativa que impedirá o aparelhamento e a burocratização de qualquer organização. O que impede a burocratização é, e sempre será, a construção de um programa classista e revolucionário de lutas para a classe trabalhadora.

Políticas de aliança rebaixada com inúmeros setores governistas como a Articulação Sindical/PT e Corrente Sindical Classista/PCdoB foram promovidas como regra geral nas mais variadas lutas no período recente pelos setores majoritários da Conlutas. A massa de trabalhadores tem, portanto, direito de se fazer a correta pergunta: por que, então, romper com a CUT? Ou, ainda: é assim que construiremos uma alternativa à Central pelega?

A majoritária da Conlutas também errou e erra quando não observa a dinâmica da luta de classes e aposta num pragmatismo “racional e maduro”, propondo que as massas devem “fazer suas próprias experiências”. Exime-se, assim do seu necessário papel de vanguarda, se colocando a reboque do movimento de massas! Tais políticas nos levaram a não concretizar a construção de uma real alternativa de organização para a classe trabalhadora, capaz de colocá-la à altura de enfrentar os enormes desafios que agora se apresentam. Construir uma plataforma concreta de lutas que se enfrente com o capital e o governo Lula, organizar um dia de paralisação nacional, defender como propaganda a palavra de ordem de greve geral são plataformas concretas para a construção de uma real alternativa organizatória e para construção da unidade em marcos classistas e proletários.

Pelo fortalecimento classista da Conlutas!
Nem um passo atrás na reorganização do movimento sindical!
Pela Construção de um dia de paralisação e lutas!





Educação pública no RJ:
Ataques privatizantes e a necessária resposta dos trabalhadores



As redes municipal e estadual de educação do Rio de Janeiro têm sido alvos de avanços cada vez maiores da ação de grandes empresários e oportunistas no período recente. O Estado e o serviço público são utilizados de maneira a servir aos interesses da iniciativa privada e sua busca pela expansão das taxas de lucro. Num momento histórico de crise econômica, é uma nova fronteira – necessária à continuidade da expansão do processo de acumulação capitalista – que se abre. Por outro lado, os trabalhadores, em geral, pouco se movimentam para construir uma alternativa de resistência concreta ao que está sendo imposto pelos governos, agentes políticos dos capitalistas.

A lei municipal 5.026/2009 regulamenta a gestão e exploração por ONGs de creches municipais e do reforço escolar realizado nas escolas. Isto significa, na prática: transferência de recursos públicos para empresas, exploração da estrutura estatal para reprodução de capital e oportunidade para o fortalecimento dos líderes políticos locais da cidade.

Os acordos estabelecidos entre a Prefeitura do Rio/SME e ONGs, como o Instituto Ayrton Senna, demonstram que o dinheiro que há nos cofres municipais é prioritariamente revertido para instituições e empresas privadas, assim como ocorre no governo do Estado do Rio, outra parte da tríade Lula, Cabral e Paes. Tudo isto acompanhado pela promoção de Paes e Costin pela grande mídia como os “salvadores da ordem” no Rio e na Educação. A medida evidencia que há dinheiro, mas a questão que se deve perguntar é: para quem?

Na rede estadual, os trabalhadores convivem com um profundo arrocho salarial. O governo estadual utiliza a crise como desculpa para não aprovar aumentos para os trabalhadores da educação, ao passo que transfere verbas públicas para empresas privadas através de seu “projeto de informatização da educação” – o caso mais emblemático foi a compra de 31 mil notebooks a preço superfaturado.

O arrocho salarial do funcionalismo público estadual é escandaloso frente à constatação de que a economia do Estado cresceu mais do que em anos anteriores e que os gastos com o funcionalismo público diminuíram. Os recursos necessários para melhorias salariais existem, mas são utilizados para transferência de verbas para empresas por meio da “informatização”.

Para lutar contra a atual conjuntura imposta pelos governos aliados à burguesia, precisamos do Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação, o SEPE-RJ, voltado à organização dos trabalhadores na base, e não engessado na burocracia e priorizando reuniões com as autoridades do executivo e do legislativo.

Os professores e todos os profissionais de educação precisam assumir a dianteira na luta pela educação e batalharem sim pela transformação significativa da educação e da sociedade como um todo. Somente a superação do capitalismo pode criar condições para que a educação desenvolva-se de modo livre das pressões do grande capital e seus agentes políticos.




Avançar nas lutas do movimento estudantil:
Derrotar a UNE e criar a Coordenação Nacional dos Estudantes





O momento de crise econômica do capitalismo impõe um conjunto de tarefas históricas não apenas aos trabalhadores, mas também à juventude brasileira. O acirramento dos ataques, a retirada de direitos e as tentativas da burguesia de imputar o custo da crise aos setores oprimidos verificam-se no cotidiano de estudantes em todo o país. Nesta conjuntura, torna-se ainda mais urgente que o movimento estudantil seja capaz de avançar em seu processo de reorganização, superando os obstáculos que se colocam para a consolidação de suas lutas e protagonizando mobilizações capazes de garantir seus direitos e avançar nas conquistas em torno a um projeto de educação público, gratuito e comprometido com os interesses do proletariado.


As conseqüências imediatas da crise para a educação são gritantes: o já deficitário orçamento do Ministério da Educação sofre um significativo corte de 10%, que atinge em cheio as universidades públicas durante o processo de implementação do Reuni. Nas universidades pagas, as mensalidades não param de aumentar, enquanto professores e funcionários são demitidos e o BNDES destina verbas públicas para socorres os lucros dos empresários da educação. Complementarmente, empresários do setor cultural buscam manter seus lucros patrocinando um violento ataque ao direito à meia-entrada, e formulam um projeto de Lei que a restringe de duas formas: estabelece uma cota de 40% para ingressos de eventos culturais e impõe a volta do monopólio das carteirinhas da UNE/UBES, medida apoiada pelas entidades governistas e traidoras dos estudantes.



Governo Lula e seu diferencial: UNE é obstáculo para as lutas!




Sabemos que a implementação e a sustentação do capitalismo neoliberal no Brasil é garantida e facilitada na atual conjuntura pela figura de Lula, que conta com sustentação e penetração nos movimentos sociais. Diferente dos governos tradicionais da burguesia, o governo Lula/PT consegue implementar com mais facilidade os ataques à classe trabalhadora e à juventude pelo fato de estar ideologicamente identificado com os setores oprimidos do país e contar com importantes aparatos de sustentação nos movimentos sociais. No caso do movimento estudantil, o governo Lula conta, desde que foi eleito e iniciou a implementação da Reforma Universitária, com a UNE como sua fiel aliada para defender os interesses privados e atacar a educação pública. A entidade parasita entre a juventude, legitimando as políticas neoliberais de Lula/PT e tentando impedir que as mobilizações do movimento estudantil se choquem contra o governo.


É esse o dado diferencial que coloca na ordem do dia para a juventude que deseja avançar em suas lutas a necessária tarefa de consolidação do processo de reorganização do movimento estudantil. É preciso compreender que a atual geração do movimento estudantil se depara com um momento de falência do velho e em que o novo ainda não está pronto. Trata-se, portanto, de criar sobre os escombros do velho a nova alternativa de luta para o movimento estudantil, compreendendo que o combate à UNE e a criação de uma nova entidade conformam um único e mesmo processo com as lutas que despontam em todo o país em patamares muito superiores aos dos últimos anos.




“É você que ama o passado e que não vê que o novo sempre vem!”:


construir a Coordenação Nacional dos Estudantes


como uma nova entidade combativa para o ME






É preciso, portanto, que o movimento estudantil construa uma nova entidade pela base e supere a atual debilidade de seu processo de reorganização, refletida nas práticas aparelhistas, artificiais e apenas propagandísticas do setor majoritário que o reivindica, o PSTU. É preciso assumir a responsabilidade de imprimir ao dia-a-dia de nossa militância o conteúdo político da construção desta nova entidade, para que ela represente as lutas que travamos e unifique um programa para enfrentar a crise, defender a educação e avance na formulação de um projeto de universidade crítico e transformador.


A criação da Coordenação Nacional dos Estudantes (CNE) aparece como a necessária nova entidade estudantil que, surgida a partir do marco da definitiva falência da UNE, deve ser capaz de unificar o programa e as lutas do movimento estudantil. É preciso, aqui, reafirmar o importante debate sobre a ruptura com a UNE como um passo indispensável para a consolidação da CNE, fundamental para que a nova entidade se configure como um instrumento alternativo e qualitativamente diferenciado daquilo que a UNE representa. A recente experiência da Frente de Luta Contra a Reforma Universitária, culminando com a sua completa dissolução, demonstra que o momento exige de nós a criação de uma resposta organizativa muito superior a uma simples unidade em torno ao programa imediato de resistência aos ataques dos governos à educação e a configuração de um campo que se localiza “dentro e fora” da UNE.


A ruptura com a UNE para a criação da nova entidade não pode ser encarada, mais uma vez, como algo “menor” ou “dispensável”. Foi com esse programa coerente e combativo que militantes do Coletivo Marxista e estudantes independentes compuseram a chapa “Quem Vem Com Tudo Não Cansa” para as últimas eleições do DCE da UFRJ, ocorridas em maio, obtendo um vitorioso segundo lugar e a significativa marca dos 1.400 votos na universidade. O acerto do programa em sua profunda identificação com as lutas políticas imediatas e gerais dos estudantes foi comprovado nas urnas, consolidando a construção do novo movimento estudantil. É nesse sentido, identificada a necessidade histórica de construção de uma política para a superação da UNE, que propomos a ruptura com a entidade e a criação da Coordenação Nacional dos Estudantes como passo indispensável ao avanço das lutas do movimento estudantil brasileiro.






Mesa Redonda:


“Análise da Crise numa Perspectiva Marxista”




O Coletivo Marxista organizou no dia 23 de maio uma atividade para a necessária análise marxista da crise mundial do capitalismo. A mesa foi composta pela coordenadora de Movimento Estudantil, Leila Leal, pelo engenheiro Sérgio Antão, dirigente da Polop na década de 80, e pela professora da UFRJ e militante do Coletivo Marxista, Vera Salim.

Sérgio Antão Paiva iniciou o debate destacando que 80 anos depois da crise de 1929, vivenciamos uma nova crise mundial do capitalismo, tendo os EUA no seu epicentro, destacando que ela ocorre quando o mundo parecia imune às crises, em função da intervenção dos governos. Na sua intervenção, Sergio Paiva analisou as origens superficiais e estruturais da crise, evidenciando a estagnação nos países centrais, seus reflexos nos países periféricos, as perspectivas para a classe trabalhadora e finalizou discutindo a manutenção ou declínio do capitalismo.

A Professora da UFRJ e coordenadora de Movimento Sindical do Coletivo Marxista, Vera Salim, frisou que a uma análise de conjuntura devem corresponder táticas adequadas de luta. Se, ao analisar as características específicas do Brasil, reconhecemos que mais uma vez a tentativa da burguesia é fazer com que os trabalhadores paguem pela sobrevida do capital e que o governo Lula, o PT e a CUT são agentes da manutenção da ordem capitalista, como deve atuar uma vanguarda política? “Defender os trabalhadores é retirar as ilusões que ainda depositam no Governo Lula, é denunciar o papel da CUT e do PT e, mais, é criar novas organizações que possibilitam o avanço das lutas de classe e não a conciliação com o capital. Só assim estaremos construindo os caminhos para colocar as lutas de classe num novo patamar”, destacou.

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