Unidade Proletária
1º Congresso da Conlutas deve avançar na consolidação de uma alternativa independente e classista
A criação da Conlutas em 2004, em Encontro Nacional amplamente vitorioso, foi um marco decisivo para a reorganização da esquerda brasileira, que em grande medida possibilitou a reorganização dos movimentos sindicais e sociais e a retomada das lutas de enfrentamento com o governo Lula e suas políticas neoliberais de ataque à classe trabalhadora. A Conlutas se constituiu em uma opção frente à falência da CUT, definitivamente transformada em um braço do governo dentro do movimento sindical e inimiga dos trabalhadores, e assim desempenhou papel indispensável para a reorganização do movimento e para a construção da retomada das lutas de massas.
Diante do 1º Congresso da Conlutas, está colocado para a entidade o desafio de consolidar-se como alternativa concreta para a classe trabalhadora brasileira, capaz de organizar e impulsionar suas lutas contra o governo e seus sustentáculos dentro do movimento social. Do ponto de vista do caráter e conteúdo das lutas a serem travadas, há um grande debate a ser feito. Apontávamos, desde o surgimento da Conlutas, como maior equívoco político a proposta de construção de uma unidade em marcos rebaixados com setores da CUT, da UNE e do PT. Os chamamentos a unidades dissolvidas foram erros sistematicamente apontados por nós neste período.
O grande diferencial do governo Lula, que o permite atacar a classe trabalhadora e aprofundar o neoliberalismo com mais facilidade e eficiência que os governos tradicionais da burguesia, é justamente sua sustentação e legitimação pelas entidades tradicionais do movimento, que atuam para frear as mobilizações e se enfrentam com o movimento independente e classista. É a partir daí que identificamos a necessidade de derrotá-las, junto ao governo, como condição fundamental para o avanço das lutas de classe e da consciência do proletariado brasileiro. O que justificaria, então, a construção de atos unificados com tais entidades, que só foram possíveis a partir da aceitação da condição – imposta pelos nossos inimigos de classe – de se abrir mão de todas as pautas políticas que atingissem o governo Lula?
É preciso, aqui, que façamos um sério e profundo debate sobre os marcos para a construção da unidade. De nosso ponto de vista, a unidade só é possível quando o movimento é capaz de identificar objetivos comuns e traçar ações unificadas para alcançá-los. Para além disso, se trata de nada mais do que “a violação da unidade sob os gritos da unidade”, já apontada por Lênin – trata-se, assim, da ruptura da unidade real da classe trabalhadora contra seu inimigo de classe em prol da construção da “unidade” impossível, sem pauta política, que se traduz, pura e simplesmente, como conciliação.
Estamos dispostos a discutir e construir em conjunto com todos os trabalhadores e trabalhadoras uma alternativa de classe para o proletariado, um instrumento capaz de unificar suas lutas e cumprir as tarefas históricas que se colocam para nós. E, para isso, é necessário avançarmos, e jamais retrocedermos, diante do que já construímos com muitas lutas até hoje, em direção à emancipação do proletariado e à superação revolucionária do capital. Avançar sob essa perspectiva será, justamente, a grande tarefa do 1º Congresso da Conlutas.
Construir a unidade proletária:
Perspectivas para o 1º Congresso da Conlutas
O debate sobre as perspectivas para o 1º Congresso da Conlutas passa, como dissemos, por um importante e fundamental debate acerca dos marcos políticos de construção da entidade, sobre suas orientações gerais e sobre o caráter que imprime às suas lutas cotidianas. Neste sentido, é essencial que façamos um balanço crítico sobre a orientação impressa à Conlutas por seus setores majoritários no último período, para que sejamos capazes de superar os erros cometidos e consolidar a entidade como uma alternativa concreta e de luta para a classe trabalhadora brasileira.
A construção da tão festejada “unidade” com setores governistas, em nossa avaliação, não passa de conciliação. Conciliação porque, para se construir, exige simplesmente que ignoremos a identificação de um objetivo comum. Se nosso inimigo é o governo Lula e nosso objetivo é derrotá-lo, não poderemos, em momento algum – a não ser que queiramos abandonar tal objetivo – deixar de enfrentá-lo para podermos construir “unidade” com aqueles que traíram a classe trabalhadora e querem exatamente o oposto de nós: defendê-lo, consolidá-lo como referência para a classe trabalhadora e garantir a implementação dos ataques neoliberais. Esta é a contradição central da conjuntura hoje, e é ela que deve nortear os marcos da construção da unidade.
Sobre a tão alardeada (pelos setores majoritários da Conlutas como justificativa para a construção de tal “unidade”) disputa das bases das entidades governistas, estamos certos de que só iremos trazer para o nosso lado a gama de trabalhadores e trabalhadoras que hoje ainda estão nas fileiras da CUT quando formos incisivos no combate às políticas da Central, e jamais ao reproduzi-las. Ou por acaso a classe vai compreender a necessidade de abandonar a CUT e construir a Conlutas quando a última fizer exatamente a mesma política que a primeira? É no combate à CUT e ao governo e consolidando uma alternativa completamente diferente na política e na forma que conseguiremos fazer avançar a consciência de tais trabalhadores.
Cabe ressaltar que aqui não nos referimos aos atos por pautas objetivas e concretas que por ventura, por conta de suas pressões e contradições internas, a CUT vier a participar. Obviamente, não deixaremos de participar de tais mobilizações. Obviamente, também, que o faremos com um conteúdo completamente diverso do defendido pela Central, que leve a luta às suas últimas conseqüências, aponte o caráter do governo como um todo, e, inclusive, denuncie o papel da entidade para frear o avanço das mobilizações – trazendo, assim, o debate da reorganização e da construção de alternativas de classe para o dia-a-dia das lutas.
Ao questionarmos os atos em unidade com o governismo, nos referimos, isso sim, aos atos de propaganda, sem reivindicações concretas, construídos pelo setor majoritário da Conlutas em conjunto com a CUT no ano passado, como o 23 de maio e a manifestação na abertura dos Jogos Pan-Americanos – cujas pautas políticas poupavam inteiramente o governo (e, mais do que isso, apoiavam seu “veto à emenda 3”) ao invés de combatê-lo. Essas são orientações inaceitáveis, que precisam ser definitivamente superadas pela concepção independente e classista que deve nortear a construção da Conlutas no próximo período.
Fusão com a Intersindical?
Outro importante debate a ser travado refere-se à fusão com a Intersindical. Estamos certos de que a construção da unidade entre todos aqueles que querem lutar contra o governo e suas políticas é uma necessidade para o avanço das lutas de classe, e que a consolidação de uma entidade sindical passará pelo sucesso em construir tal unidade.
O que devemos ressaltar, sobre esse aspecto, é que a Intersindical se torna débil para responder as tarefas de reorganização do movimento sindical por aglutinar uma série de setores cutistas e, assim, estar impedida de consolidar uma alternativa independente e classista. Está claro que a construção de uma ferramenta que esteja à altura de cumprir seu papel histórico passa, necessariamente, pelo abandono e destruição da CUT como referência para o proletariado, e não pela “coexistência pacífica” com a central traidora.
Neste sentido, mantidos esses marcos, uma fusão da Conlutas com a Intersindical significaria um enorme retrocesso na construção do novo instrumento da classe trabalhadora brasileira. Significaria não apenas um, mas vários passos atrás no que se refere ao que a Conlutas já é hoje, no que construiu desde 2004 e nas deliberações do Conat de 2006, que apontavam claramente para a ruptura com a CUT. Significaria, assim, mais uma conciliação, mais uma diluição, mais uma negação em responder aos desafios colocados para a esquerda brasileira – política contra a qual nos colocamos frontalmente.
Nem um passo atrás na reorganização do movimento sindical:
derrotar o governo Lula/PT e suas políticas neoliberais!
Estrutura da Conlutas: responder
aos desafios da conjuntura
Precisamos, aqui, nos ater a uma importante preocupação: o debate organizativo da Conlutas, que reflete uma série de opiniões políticas e é essencial para a consolidação de uma entidade. Ao tratarmos dos métodos para a construção do novo, devemos estar atentos às tarefas que a esquerda como um todo precisa cumprir neste momento de reorganização. Isso significa que este processo deve se desenvolver a partir de uma caracterização precisa do estágio em que se encontram as lutas de classe a nível mundial e nacional, do nível de organicidade em que se encontra a classe trabalhadora, sobre quais são e, principalmente, por onde passam suas possibilidades de avanço.
Para tal, não nos serve avaliar a conjuntura tal qual queríamos que ela fosse, tal qual queremos que seja a curto ou médio prazo. Isso, obviamente, é também importante – mas apenas se combinado com a avaliação concreta da situação concreta, pois é daí que retiraremos nossas tarefas imediatas, tanto do ponto de vista político como organizativo. Isso significa que, para que a Conlutas possa cumprir seu papel na reorganização do movimento sindical brasileiro, precisamos ter clareza que ainda não vivemos um momento de unificação das lutas de classe no país. Esse é o desejo de todos os lutadores e lutadoras da esquerda brasileira, mas apenas isso não basta.
É justamente porque queremos que as lutas de classe se unifiquem no próximo período que precisamos impulsionar esse processo a partir do que temos de concreto, hoje, na conjuntura, e não tentar unificá-las artificialmente – o que só faz o processo retroceder. É neste sentido que não acreditamos que possam contribuir com o avanço da luta as propostas de transformar a Conlutas em algo parecido como um “soviet”, numa conjuntura em que a unificação das lutas ainda não está colocada.
É por isso que apontamos a necessidade de uma nova central sindical de trabalhadores e de uma nova entidade de representação dos estudantes, já que identificação de classe se dá por um entendimento real dos trabalhadores sobre o papel que representam nas relações de produção. Defendemos, obviamente, que trabalhadores e estudantes atuem em unidade contra o capital, resgatando a herança da unidade operário-estudantil. Defendemos, igualmente, a realização de fóruns amplos, que reúnam o movimento sindical, social e estudantil para a avaliação e organização de lutas conjuntas.
Mas isso não pode substituir a construção de organizações de classe e categoria, capazes de atender às necessidades específicas de cada movimento e, assim, fazer avançar o nível de consciência da classe trabalhadora e da juventude no fogo de suas lutas, rumo a uma real unificação do movimento. Se ignorarmos tal tarefa e tentarmos, artificialmente, unificar as lutas de classe apenas por nossa vontade, à revelia da conjuntura, estaremos construindo uma ferramenta superestrutural, na qual as necessidades específicas dos trabalhadores e da juventude serão objetivamente relegadas a segundo plano, assim como o avanço de suas consciências.
A realidade que queremos transformar:
uma análise de conjuntura do Brasil e do mundo
É preciso um programa proletário para
enfrentar a ofensiva do capital
Assumir, nos dias atuais, que o capital em nível mundial encontra-se em uma profunda dilaceração em suas formas produtivas e organizativas representa, no mínimo, um retrocesso só justificado pela ausência de aplicação do marxismo como método de análise e interpretação da realidade. A crise do setor imobiliário dos EUA, com quedas de 4,5% e 6,5% em seus lucros nos terceiro e quarto trimestres de 2007, é prova, sem dúvida, da desestabilização da economia estadunidense.
Dados gerais mostram que a economia como um todo foi abalada. O crescimento do Produto Interno Bruto caiu de 4,9% no terceiro trimestre para apenas 0,6% no quarto, contrariando até mesmo as previsões mais pessimistas – que variavam em torno de 1,2% de crescimento. Alarmante também é o crescimento da taxa de desemprego, que chegou a 5% em dezembro de 2007, o dobro do mesmo período do ano anterior e o crescimento da inflação, atingindo a maior taxa em 26 anos: o índice foi de 4,1% em 2007, contra 2,5% em 2006. Há também a redução dos postos de trabalho. O Departamento do Trabalho do governo dos EUA revela que no mês de janeiro foram fechados 17 mil postos de trabalho, a primeira redução no número de empregos desde agosto de 2003.
Fontes oficiais do governo e analistas econômicos da grande mídia apontam para uma rápida recuperação. A recuperação das bolsas, após as medidas paliativas anunciadas pelo governo norte americano, acontece enquanto o FMI anuncia a diminuição da previsão de crescimento mundial para 2008, mas insiste em afirmar que não haverá recessão, uma vez que a crise seria apenas financeira e não econômica. A crise mundial “dos alimentos”, que reflete a desestabilização do centro da economia mundial, já atinge muitos países, e é sentida também no Brasil.
Sabemos que o capitalismo é um sistema que enfrenta crises cíclicas, inerentes à sua própria estrutura. Sabemos, igualmente, que encontra formas de superá-las, reestruturando-se e assumindo novas facetas que adiam sua falência definitiva, mesmo que sejam incapazes de superar suas contradições fundamentais. Obviamente, os números atuais dos EUA apontam para uma recessão mais importante que a queda das bolsas. Ainda assim, a dimensão e a definição do caráter da crise – se se trata de uma crise conjuntural ou estrutural – certamente ainda se delineiam.
Luis Inácio Lula da Silva é eleito presidente do Brasil num cenário de intensos ataques às conquistas dos trabalhadores e às suas organizações políticas e sindicais. A necessária implantação do projeto neoliberal para dar sobrevida ao capital é conseqüência direta de mais uma crise do capitalismo, quando a queda das taxas de lucro do capital mundial obriga a burguesia a abandonar o modelo de Estado de Bem-Estar Social e adotar uma estratégia de intensificação da exploração da mais-valia absoluta e relativa. Estratégia esta necessária para a reprodutibilidade do sistema, que impõe, mais uma vez, sacrifícios ao proletariado mundial e ao brasileiro.
Como sabemos, a implantação inicial deste projeto no Brasil coube especialmente aos governos Collor e FHC. No momento em que o próprio neoliberalismo começa a apresentar sinais de desgaste, cabe a um líder operário o aprofundamento e institucionalização do projeto neoliberal brasileiro. Assim, o papel de algoz da classe trabalhadora cabe a um líder sindical carismático que, por isto mesmo consegue, de forma mais eficiente do que qualquer representante clássico da burguesia, implantar as reformas necessárias à sobrevida do capital com menor pressão, enganando parte da classe trabalhadora e desmobilizando temporariamente o país. Transforma-se, assim, Luis Inácio Lula da Silva numa eficiente e descartável marionete da burguesia e do capital financeiro, que chama Bush de companheiro – e, mais do que isso, sustenta sua política internacional: prova disso é o escandaloso envio de tropas militares brasileiras para oprimir e sustentar a exploração do povo haitiano e dar suporte à invasão dos EUA ao Iraque.
A política desenvolvida por Lula e pelo PT representa e representava, desde seu início, uma continuação das políticas burguesas desenvolvidas no país. Este eficaz comitê gestor da economia e da política burguesas tem como uma das suas especificidades históricas o fato de se encontrar ancorado em um líder sindical como presidente e em um partido e entidades (PT, CUT, UNE) que, de uma forma ou de outra, detinham significativo poder de representação, dificultando enormemente a retomada das lutas contras as reformas neoliberais e o trabalho de reorganização partidária, sindical e estudantil no campo da esquerda.
Diante dessa realidade e com uma série de debilidades, se inicia um processo de reorganização do movimento operário e estudantil ainda no primeiro mandato de Lula, mas os ataques do governo são implementados com relativa facilidade. No primeiro ano do segundo mandato do governo Lula, as denúncias de corrupção se tornam rotina, demonstrando mais uma vez e claramente a deterioração do PT e a conivência e apoio da CUT a toda política neoliberal, incluída aí a corrupção como uma de suas manifestações. Em rápidos e sucessivos intervalos ocorrem denúncias, crise, apreensão no poder e rápidas recuperações. A aceitação do governo oscila, mas se mantém em alta, resultado dos programas assistencialistas, da parceria com a Rede Globo, do apoio do capital financeiro com lucros sempre crescentes e do bom desempenho da economia na ótica burguesa.
De toda forma, observa-se que o governo já apresenta uma dificuldade maior para implementar suas reformas e a política neoliberal como um todo. Depois de fortalecer-se no ano eleitoral (quando freou alguns de seus ataques e mobilizou mesmo parte da esquerda, que já não acreditava mais no projeto do PT, com a falsa polarização com a direita tradicional representada pelo PSDB), o governo volta a atacar logo no primeiro ano do segundo mandato e encontra uma resistência mais organizada por parte da esquerda. Ainda que tal resistência não tenha sido capaz de barrar objetivamente muitos dos aspectos da política do governo Lula, o enfrentamento se deu em níveis superiores, colocando maiores obstáculos aos ataques neoliberais e refletindo o avanço do processo de reorganização da esquerda brasileira.
Lamentavelmente, foi exatamente nesse momento de maior desgaste do governo e seus apêndices que observamos a opção, por parte das correntes hegemônicas na esquerda (PSTU e PSOL), de voltar a organizar mobilizações - com eixos políticos rebaixados - lado a lado com aqueles que representam a burguesia no movimento social, o que impediu que a reorganização avançasse ainda mais.
Quem é o Coletivo Marxista?
O Coletivo Marxista é uma organização revolucionária surgida em 2006, que defende a Revolução Socialista, operada pelo proletariado, como único caminho para a superação do capitalismo e todo o estado de coisas em que vivemos, em direção ao comunismo. Queremos uma sociedade livre de todo tipo de exploração e opressão, uma sociedade sem classes, e entendemos que a luta para sua construção deve ser protagonizada pela classe trabalhadora, profundamente orientada pela independência de classe em relação à burguesia e suas instituições, tais como a democracia burguesa e o parlamento.
Entendemos que a especificidade histórica da Revolução Socialista instala a teoria como arma indispensável à sua própria viabilidade. Diferente dos processos históricos que a precedem, a Revolução Socialista se coloca como tarefa não apenas substituir uma classe por outra no poder, mas sim de exterminar as bases sociais – a propriedade privada dos meios de produção e a divisão social do trabalho – da exploração e da própria existência das classes sociais.
Esta especificidade da Revolução Socialista implica o estabelecimento de uma meta futura, de natureza abstrata. Tal meta exige ser pensada, e só pode ser pensada, em termos abstratos, teóricos portanto. O proletariado terá que tomar o poder político para instalar novas relações de produção e desenvolver forças produtivas em direção ao comunismo, terá que instalar uma sociedade nova e para tal precisa formar-se a partir da teoria revolucionária.
Nossa teoria é o marxismo. É sobre os alicerces teóricos do materialismo dialético e do materialismo histórico que produzimos o nosso conhecimento da realidade e nossas políticas para revolucionar esta realidade. É neste sentido que nos orientamos pelo fio condutor trazido ao Brasil por Eric Sachs, fundador da Organização Revolucionária Marxista Política Operária, a Polop, a partir da tradição de independência formulada pela Oposição Comunista Alemã, a KPO: cada nova revolução é uma fonte de novas experiências e exige um papel criador de sua vanguarda. Devemos nos apropriar das experiências revolucionárias anteriores compreendendo o que têm de específico e o que têm de geral como contribuição para a luta do proletariado mundial. Mas sem apegar-se ao espírito messiânico que prevê esquemas mecânicos e pré-concebidos da Revolução.
Não nos consideramos donos do marxismo. Ninguém o é. Mas julgamos possuir a legitimidade política para impor-nos a tarefa de contribuir para desenterrar o marxismo como uma força revolucionária viva, única força capaz de instrumentalizar a concretização do sonho libertário comunista. E convocamos todos e todas que compartilham deste sonho a discutir conosco, enriquecendo nossas contribuições na experiência da luta de classes, em direção à Revolução Socialista e à construção do comunismo.
Junte-se ao Coletivo Marxista na luta por uma sociedade sem classes!
Movimento Estudantil: quem disse que sumiu?
A retomada das mobilizações evidencia a necessidade de construção
de uma alternativa capaz de unificar o movimento
Em maio de 2008, em diversos momentos pudemos recordar e trazer à tona as comemorações dos 40 anos de um período extremamente significativo para as lutas estudantis, ao lado da classe trabalhadora, a nível mundial. A ousadia, a coragem, a combatividade e a jovialidade dos estudantes são características essenciais para vislumbrarmos uma organização coletiva que se choque com a ordem vigente e fortaleça a luta para a construção de uma nova sociedade.
O ano de 2007 foi, sem dúvida, um marco para o movimento estudantil brasileiro. A retomada das lutas em patamar significativamente superior aos últimos anos, que recolocou o ME na cena política nacional, exige da esquerda um profundo e responsável balanço. Para além do super dimensionamento e da agitação esvaziada, que exalta vitórias a qualquer custo, devemos refletir sobre os avanços e limites do processo de lutas pelo qual passamos, para que tenhamos condições concretas de identificar nossas debilidades e avançar em sua superação.
Frente de Luta e a artificialidade da “unidade”
No final de 2006, surge a Frente Nacional de Luta Contra a Reforma Universitária, amplamente festejada pelos seus setores majoritários, PSTU e PSOL, como a “reconstrução da unidade no movimento estudantil”. No entanto, devemos fazer uma reflexão que dê conta de avaliar o conjunto das tarefas colocadas para o movimento estudantil brasileiro.
E o que representa a Frente de Luta nesse cenário? Por um lado, a óbvia explicitação da impossibilidade de se tocar qualquer luta por dentro da UNE e da necessidade de construção de novos instrumentos para organizar nacionalmente a luta do movimento estudantil. Por outro, um reflexo recuado, do ponto de vista político, de toda potencialidade desse processo. Justamente por basear-se em uma unidade artificial, que não corresponde a um entendimento comum das tarefas e necessidades do movimento estudantil, a Frente só se sustenta com a manutenção artificial de tal unidade. Isso impõe a todos os estudantes que participam de sua construção uma estrutura extremamente burocrática e limitadora do ponto de vista político, da qual o maior exemplo é o autoritário sistema de deliberações apenas por consenso.
2007: um balanço conseqüente da retomada do ME
É neste cenário de potencialidades, debilidades e indefinições que se desenvolvem as importantes lutas do último ano. A intensificação dos ataques ao sistema educacional, consolidada pela ofensiva do setor privado com sustentação dos governos, se manifestou através dos decretos do Governo Serra/PSDB nas estaduais paulistas, o Reuni de Lula/PT nas universidades federais e dos aumentos de mensalidades, demissões de professores e precarização das condições de ensino nas universidades particulares. O Movimento Estudantil, mais avançado em seu processo de reorganização do que nos primeiros anos do governo Lula/PT, conseguiu construir uma aguerrida resposta a tais ataques, que o recolocaram no cenário político nacional e alavancaram as lutas a um patamar superior às travadas nos últimos anos.
Exemplos disso foram as passeatas, greves e, principalmente, as ocupações de Reitoria que se espalharam por todo o país. No entanto, tais manifestações, que tiveram o mérito de fortalecer enormemente o movimento estudantil, ainda foram, em grande parte, insuficientes para garantir vitórias concretas e barrar os ataques à educação. A principal dificuldade enfrentada pelo movimento estudantil neste processo de lutas, que o impediu de atingir todas as suas potencialidades e alcançar vitórias concretas, foi, sem dúvida, a incapacidade de se conferir um caráter nacional às lutas. Por mais que tivéssemos, no auge do processo, diversas reitorias de universidades ocupadas simultaneamente, a luta ainda permanecia restrita às universidades, e não se unificou como uma única e mesma luta contra o governo. É daí que se depreende, claramente, a importância da construção de uma nova entidade para avançarmos concretamente em nossas lutas.
Construção de uma nova entidade: superar o “círculo vicioso” e avançar nas lutas
Mas como se dará a construção de uma nova entidade? Diversos setores do movimento têm argumentado, corretamente, que este não pode ser um processo artificial, superestrutural, que apenas crie uma nova direção para o movimento. É justamente por isso, para que este debate ganhe o dia-a-dia de nossas lutas, que não podemos abandoná-lo para construir “unidades” artificiais, em marcos rebaixados, que ignoram uma necessidade real do movimento estudantil e deixam a importante tarefa política da reconstrução de um movimento unificado nacionalmente “para depois”, um futuro abstrato e distante e, assim, impedem que as próprias lutas que estariam supostamente sendo “garantidas” e “privilegiadas” alcancem seus objetivos.
Defendemos, portanto, a construção de uma nova entidade pela base. Para isso, precisamos assumir essa tarefa e, mais do que isso, a responsabilidade de imprimir ao dia-a-dia de nossa militância o conteúdo político da construção desta nova entidade. Apenas assim ela surgirá do calor das lutas e não será artificial. Em 2008, será nossa tarefa central para a reorganização do movimento estudantil a construção de um grande Congresso, com tiragem de delegados em cada sala de aula do máximo de universidades públicas e privadas e colégios pelo país, a fim de discutir todas as pertinentes questões vivenciadas pelos lutadores no último período.
O Encontro Nacional de Estudantes, que é muito importante para dar um pontapé inicial neste debate, ainda não é suficiente para responder a todas as nossas necessidades. Precisamos de um congresso com amplo processo de construção pela base, com eleição de delegados que representem a realidade das lutas em cada estrutura do Brasil. O Congresso é imprescindível para impulsionar as lutas que alavancaremos no transcorrer do ano, para reunir e representar uma grande parcela do corpo discente de nosso país. Acreditamos, também, que o Congresso deve ser convocado com a preocupação de discutir os rumos e tarefas do movimento estudantil e, portanto, deve pautar o debate da criação de uma nova entidade nacional para o ME.
É importante que nos entendamos enquanto vanguarda de um processo em curso, e se não temos os estudantes convencidos de que é preciso construir um novo movimento e uma nova entidade estudantil, é nosso papel, nossa tarefa, nosso desafio elaborar e criar sólidos argumentos para convencer nossos colegas. Não solidificar esse processo é rumar para o caudismo, estar na retaguarda da reorganização dos estudantes, não na vanguarda. É possível sonhar, ousar, lutar e vencer, mas precisamos criar e recriar os instrumentos para atingirmos nossos fins.
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