quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Manifesto pelo VOTO NULO

VOTE NULO!

Lute pela criação de um Partido Revolucionário!

As eleições de 2010 repetem a velha e gasta tentativa de vender aos trabalhadores e à juventude brasileira a ilusão de que uma simples participação nas eleições parlamentares pode interferir nas decisões que definem o destino do Brasil e o rumo de nossas vidas.

As políticas governamentais influenciam sim as nossas vidas. A transformação do Brasil num produtor prioritário de biomassa, a privatização do metrô, a reforma da previdência e a entrega sem precedentes de nossos recursos energéticos são alguns dos inúmeros exemplos que mostram como nossas vidas dependem das políticas implementadas pelo poder público. Porém, tais questões não serão resolvidas com o simples ato de votar.

O chamado “exercício da cidadania”, sinônimo do simples ato de depositar ou digitar um voto, é festejado. No entanto, é esse mesmo exercício que se acaba logo após o voto, quando se delega para aqueles que não nos representam o papel e o direito de legislar sobre nossas vidas e nosso destino. O “exercício de cidadania” em si já é farsa porque parte do princípio de que, diante das urnas, todos os indivíduos são iguais. A máxima de que, na hora do voto, patrões e trabalhadores têm o mesmo peso ignora que não somos iguais numa sociedade dividida em classes e que não há tratamento igualitário nas eleições burguesas - especialmente quando todos os veículos de comunicação de massa são dominados ou propriedade da burguesia e do capital financeiro e as grandes campanhas dos diferentes partidos da ordem são financiadas pelos empresários e banqueiros.

As eleições de 2010 se caracterizam pela ausência de debates e de disputa política. Não existe nenhuma candidatura majoritária que represente um avanço real para politização e avanço de conquistas para a juventude e para classe trabalhadora brasileira.

Dilma Roussef representa a continuidade do governo de Lula/PT. Um governo que se vende como representante ideológico da classe trabalhadora e apresenta o grande diferencial de contar com alicerces nos movimentos sociais, na CUT e na UNE, mas que, objetivamente, serve aos interesses do grande capital. São essas características que transformam o governo Lula/PT na mais eficiente alternativa para o aprofundamento do neoliberalismo, possibilitando a manutenção dos lucros e a reprodução do sistema capitalista no Brasil e na América Latina. Só para não esquecer: nos dois mandatos de Lula, foram aprovadas a reforma da previdência e os eixos centrais das reformas universitária e trabalhista, medidas que o governo FHC não conseguiu aprovar.

A candidatura de “oposição” de José Serra, apoiada pela burguesia tradicional, não se opõe a Lula e, sem rumo, não apresenta nenhum programa alternativo, já que o programa que defendem é o mesmo que Lula executa. Sem linha programática, se pauta pelo denuncismo. Como continuidade do mesmo, aparece a candidatura "verde" de Marina, ex-ministra de Lula e candidata do PV, aliado regional do PSDB e do DEM, tendo como vice um dos mais influentes empresários brasileiros.

Neste importante momento conjuntural, com uma crise econômica que se agrava desde o primeiro semestre de 2009, a esquerda brasileira aparece desunida e não apresenta uma candidatura própria unificada. O pior: a esquerda se dividiu não por legítimas disputas programáticas, mas por disputas meramente eleitorais (perfil midiático ou eleitoral do candidato, liderança de chapa, tempo de TV etc.).

Nesta conjuntura, o que acontece são debates engessados e padronizados, sem a existência de espaço para a reflexão e uma efetiva disputa de programas; acompanhamos a formatação para a mesmice e para a venda de imagens. Não por acaso, aumenta-se o número de artistas, cantores e jogadores de futebol como candidatos. A eleição é transformada em sinônimo e resultado de venda de imagens em caríssimas e planejadas campanhas publicitárias, pagas com depósitos milionários, de preferência em contas no exterior!

Eleições de 2010; militantes de aluguel, campanhas midiáticas milionárias, políticos maquiados e embelezados!

A escolha do novo presidente do Brasil, já definido por antecipação, ocorre num difícil momento conjuntural para a classe trabalhadora, quando a crise econômica atinge todos os países do centro do capitalismo com maior ou menor intensidade. Crise mundial e toda a sorte de assombrosos desastres ambientais, guerras, massacres em massa, crise energética, desemprego, falência do ensino público, da saúde pública e da segurança. Esse quadro demonstra que não há esperanças sob os marcos do sistema capitalista, mas sim aprofundamento da desumanização e da miséria dentro desta ordem mundial. A polarização ou o dilema entre socialismo ou barbárie é a realidade exemplificada em cada esquina do Rio de Janeiro e todos os centros urbanos e zonas rurais do país.

Imaginar mudanças dentro da mesma e velha ordem capitalista é sinal de ignorância ou esperteza política. Contudo, mesmo diante deste cenário sombrio, as eleições presidenciais acontecem num clima de total despolitização e indiferença: os debates, por exemplo, atingem cerca de 4% de audiência na TV. Desânimo, descrédito, indiferença e baixíssima participação popular são a tônica desta eleição, já definida e disputada por dois candidatos que apresentam programas pautados pela mesma opção de classe: servem à burguesia e ao capital financeiro. A massa de trabalhadores, muitos desempregados, assiste passiva à continuidade do mesmo, às alianças espúrias, à baixa política de bastidores e à ausência de propostas de transformação real para sua vida e futuro de seus filhos.

Na raiz deste cenário, encontra-se a falência do PT como proposta de organização para a classe trabalhadora. Encerra-se aqui, com muita lama, um ciclo inicialmente virtuoso, com altíssima politização e participação popular. Termina um ciclo político iniciado com as lutas pelo fim da ditadura militar brasileira e a subsequente criação do Partido dos Trabalhadores. Devíamos já ter apreendido com esta história, ainda tão recente, simulacro de tantas já muitas vezes repetidas na história das lutas de classe.

Devíamos ter aprendido o que já era apontado pela esquerda marxista. Uma plataforma reformista, de lutas apenas pela redemocratização, retorno do “Estado de direito” e "Diretas já" colocaram os trabalhadores e a juventude brasileira a reboque e a serviço dos interesses da burguesia e não avançou para sua organização independente como classe. Devíamos também ter aprendido com as divergências que pautaram, naquele momento, as propostas organizativas para o novo partido, o Partido dos Trabalhadores.

O modelo inspirado em partidos social-democratas, tão velhos quanto o reformismo, veio na bagagem de parte da esquerda anistiada travestido de novo. A pauta social democrata, defendida por muitos dos que voltavam como heróis, era criticada e contraposta a um programa socialista revolucionário defendido pelos marxistas. Venceu a social-democracia, o populismo, o obreirismo e o desprezo pela teoria revolucionária.

A falência do PT, hoje aliado da família Sarney, de Collor e Renan Calheiros, repetiu a mesma e velha história trilhada por tantos partidos sociais-democratas e reformistas. O caminho eleitoreiro, pautado, sempre, em concessões e alianças com a burguesia, não resulta e não resultará jamais em avanço real na consciência e organização autônoma da classe trabalhadora.

Reiniciar esta história, 30 anos depois, é despreparo teórico ou irresponsabilidade política. Certamente não é este o caminho para ser trilhado por todos que se apresentam como alternativas de esquerda combativa.

Que fazer diante da falência do PT? Como podemos e devemos nos reorganizar?

A esquerda brasileira vive mais um momento decisivo na sua trajetória. Momento de recriar e organizar o novo. Desperdiçar nosso tempo e energia revolucionária esperando por migalhas de espaço na mídia burguesa equivale a se omitir da difícil tarefa de apresentar alternativas de luta e organização. É preciso denunciar a farsa das eleições, apresentadas como realização máxima da participação popular e sinônimo de exercício político, e retirar da massa trabalhadora a crença no populismo e da realidade midiática construída nas telas da Rede Globo.

É absolutamente inconcebível que, neste grave momento conjuntural, a esquerda ativista se negue a pautar com coerência esse debate e reforce as expectativas de que a vida da classe trabalhadora pode ser transformada pela via eleitoral.

Infelizmente, numerosos companheiros de esquerda ainda gastam seu tempo e energia nessa falsa batalha eleitoral, que assume o posto de projeto estratégico, e em polêmicas partidárias pautadas por melhores ajustes eleitoreiros. Justificar-se-ia o esforço de militância e a participação nas eleições pela possibilidade de propagandear um programa socialista nos escassos minutos disponíveis na mídia burguesa e materializá-lo com propostas concretas capazes de alterar as condições de vida dos trabalhadores numa conjuntura de avanço das mobilizações e lutas, propostas essas que certamente os candidatos e partidos da ordem estão impedidos de apresentar diante de seu comprometimento material e ideológico com a burguesia.

O que já era velho e gasto virou caricato e exige de nós, militantes revolucionários, muito mais do que escassos minutos de aparição na TV. Há que se perguntar se existe espaço real nesta conjuntura para uma disputa de idéias e defesa de um programa socialista numa meteórica participação midiática e o que, num cenário de crescente descrédito nas eleições, promove um maior avanço da consciência dos trabalhadores.

Diante desta conjuntura, o Coletivo Marxista se posiciona publicamente pela defesa do VOTO NULO, apresentando como alternativa não a mesmice burguesa e sim a luta pela criação de uma real alternativa, um Partido Revolucionário que organize e impulsione as lutas da classe trabalhadora contra o capitalismo.

Denunciar efetivamente esta farsa populista e/ou direitista exige a desmistificação das soluções parlamentares, enraizada na massa de trabalhadores pela ideologia dominante. Exige a apresentação de outro caminho e de alternativas não reformistas que apareçam como contraposição à descrença e ao desânimo pautados no senso comum de que todos são iguais e que todos têm seu preço.

O voto nulo não é uma negação da política. Pelo contrário, é a afirmação da necessidade de uma concepção política pautada por um corte de classe. É a afirmação da política referenciada na transformação social, na superação do capitalismo e na construção da Revolução Socialista.

Votar nulo nas eleições de 2010 significa reconhecer a necessidade de construir o novo. Significa usar o espaço eleitoral para desmascarar a farsa eleitoral e mostrar a coerência entre a teoria e a prática revolucionárias. É hora de se dizer não a todas estas mentiras!

Vote nulo e reafirme o sonho libertário comunista de igualdade!

Vote nulo e junte se a nós na luta por uma sociedade sem classes!

Vote Nulo e junte-se a nós na luta pela criação de um Partido Revolucionário!

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