quarta-feira, 30 de julho de 2014

Contra a escalada de repressão e criminalização: unidade pautada nas lutas. Lutar não é crime!


O Coletivo Marxista, presente em todos os atos que se posicionaram contra a copa das remoções e na grande maioria das atividades politicas que protestam contra o recrudescimento da repressão e violência no Brasil, registra seu apoio e solidariedade a todos os militantes presos arbitrariamente, aos seus familiares e às organizações politicas e sindicatos citados no vergonhoso inquérito que serve de base à criminalização.

        A Copa da Fifa não veio em vão. O mais rentável dos eventos da Federação trouxe lucros expressivos para os empresários da construção civil, para os grande complexos de comunicação e para todos aqueles que de uma forma o outra se ligam às redes de favores e concessões lucrativas que resultaram deste evento. Do outro lado da moeda, a população brasileira, que sofreu com o caos urbano, as violentas remoções - muitas acompanhadas de torturas e mortes que a mídia hegemônica quase nunca denuncia -, o fechamento de hospitais públicos, a proibição de utilização e circulação nos espaços públicos, o cerceamento às manifestações, o aumento vertiginoso do custo de vida e o recrudescimento covarde e arbitrário da violência para repressão dos que se opõem ao vergonhoso legado desse megaevento.

   O saldo maior desta Copa são um maior e tecnologicamente avançado aparato repressivo, e um inchamento do contingente policial totalmente arbitrário e violento. A mais recente onda de violência repressiva e de arbitrariedades praticadas pelo Estado brasileiro e seus governos, municipais, estaduais e federal, representantes dos diferentes partidos políticos da ordem burguesa, materializa e exemplifica de forma assustadora esta afirmação.

    Crianças sozinhas interrogadas em suas casas, mães colocadas em cárcere privado e ameaçadas em seus lares, jornalistas agredidos a luz do dia em praças públicas, advogados investigados em seu exercício profissional, militantes presos arbitrariamente e a diária criminalização dos movimentos sociais se tornaram rotina. Como se não bastasse, a onda de violência vem associada a uma poderosa campanha midiática, comandada pelas principais redes de comunicação, entre elas rede Globo, mestra em promover a distorção de fatos e mentiras.

    Analisar esta escalada de repressão que se abate sobre o Brasil exige uma isenção emocional quase impossível para aqueles que vivenciaram o Brasil , ame-o ou deixe-o, e trazem presente e revisitada a trágica Copa de 1970 quando, a cada grito de gol, nossos companheiros desapareciam e muitos, muitos, eram colocados em pau de ara ,sofriam choque cientificamente controlados, ensinados com todos requintes de crueldade pelo enviado do Estado Unidos Dan Mitrione , introdutor da tortura cientifica no Brasil. E é com a dureza desta história revisitada que devemos nos posicionar e atuar politicamente . Lembrando Adorno: não se trata de impedir a barbárie, porque ela já aconteceu, e aqui não só aconteceu nos porões da ditadura como acontece diariamente nas periferias de todas as grandes cidades e no campo. Mortes , justiçamento e desaparecimentos fazem parte do cotidiano do campo e da cidades brasileiras.

    A escalada e banalização da violência, sabemos, tem suas raízes mais profundas na crise mundial do capitalismo que sobrevive com guerras, pilhagens , miserabilização das massas e assassinatos da jovens e crianças, como recentemente registrados na Palestina.

   O balanço das lutas mostra com a crueza de sempre o que sabemos: o Estado burguês usa, como sempre usou, todo seu aparato repressivo sempre que necessário para garantir sua ordem e os lucros das classes que representa. Neste sentido respostas urgentes precisam ser equacionadas e colocadas em ação, neste particular momento conjuntural. Apontamos a necessidade de uma unidade concreta, pautada nas lutas e nas ruas, contra a criminalização das lutas e dos militantes.

    Esta é a premente tarefa que se coloca diante dos militantes de esquerda. É esta a exigência maior com que nos deparamos para responder o recrudescimento da violência e a fascistização do Estado. Diante dos recentes atos que se desenrolaram numa dinâmica acelerada desde a prisão arbitrária de 21 militantes de diferentes organizações de esquerda , sabemos que é preciso estarmos juntos nas ruas e em fóruns organizativos construindo a luta por sua anistia, denunciando o grampeamento de telefones, a mentirosa onda de criminalização, a perseguição a expressivos sindicatos e a prisões sumárias em que o direito a defesa esteve prejudicado pela dificuldade de acesso dos advogados ao processo (obtido com exclusividade e divulgado com cortes editoriais pela Rede Globo).

Neste momento não nos são permitidos a passividade e posição de espectador!

     A pulverização e espontaneidade das ações que se sucederam são sintomas da ausência de articulação política entre a esquerda brasileira e mostram o potencial de indignação de uma parcela do ativismo que, da mesma forma que em momento anteriores, procura fóruns de atuação que não repitam mais do mesmo.

     O Comitê Popular Contra o Estado de Exceção é mais uma experiência das tantas já vividas, surgido da necessidade de organização e unidade para responder à escalada repressiva. Cabe a esquerda organizada, sindicatos e ativistas a difícil e necessária tarefa de unificar em lutas imediatas o amplo leque de pensamento e prática políticas da esquerda brasileira. Participamos de sua fundação e temos atuado cotidianamente no Comitê defendendo a necessidade de sua ampliação e consolidação como uma ferramenta unitária para a luta contra a criminalização das lutas e a escalada repressiva do Estado. É necessário que o Comitê se fortaleça com respeito às diferenças entre os variados segmentos que o compõem, com debate político amplo e a capacidade de sintetizar os eixos gerais e unitários da luta contra a repressão e em defesa do direito de lutar.

    É tarefa imediata construir a unidade de ação sem a reprodução de unidades artificiais, gestadas em superestruturas, e nem criar uma horizontalidade que nos imobilize e impeça de responder à acelerada dinâmica conjuntural. Este é nosso enorme e necessariamente imediato desafio. Por isso, é fundamental que os sindicatos, já perseguidos no atual inquérito e, cada vez mais, em cada uma das lutas específicas das categorias que organizam, assumam também seu papel político no enfrentamento conjunto à criminalização dos movimentos sociais. Não é mais possível que aguardemos ataques episódicos de repressão e resistamos a eles isoladamente, quando se torna cada vez mais claro o fato de serem todos parte de um mesmo processo político.

    Da mesma forma, os partidos da esquerda brasileira precisam se responsabilizar pela construção consequente dessa luta e impulsionarem a consolidação das ferramentas criadas para dinamizá-la. Mesmo com as diferenças que possuímos, achamos fundamental a presença das organizações e o comprometimento político de mobilização nos setores em que militam para que o nosso enfrentamento possa de fato estar à altura dos ataques que sofremos.

      O Coletivo Marxista, mais uma vez aceita este desafio e conclama a todos para estarem presentes no ato do dia 30/07 pela libertação de todos os presos e contra a criminalização dos movimentos sociais. Que tenhamos consciência da nossa importância e saibamos construir organizações capazes de enfrentar os ataques do capital em crise, em defesa da luta da classe trabalhadora e da juventude.

Na luta, companheiros. Ousar lutar, ousar vencer!

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