Privatização,
mercantilização do ensino e produção de conhecimento, expansão sem
infraestrutura e investimentos compatíveis, baixos salários para professores e
técnicos administrativos, falta de professores e de salas de aulas,
sucateamento e privatização dos hospitais universitários, ausência de verba
pública para manutenção dos grandes laboratórios, estudantes sem assistência
estudantil, sem alojamentos, bolsas estudantis sem reajuste e muitos outros
problemas afetam as universidades públicas do Brasil
A
greve nacional dos professores, iniciada no mês de maio, já conta com a adesão
de 57 Instituições Federais de Ensino Superior do país (representando 95% do
total). O movimento nacional se expandiu e, hoje, está unificado com a greve nacional
de estudantes e funcionários técnico-administrativos. O vertiginoso ascenso do
movimento grevista, mesmo com o boicote da mídia e acontecendo exatamente
durante a lamentável Rio +20, pode ser explicado pelo quadro acima relatado. É
também importante ressaltar a indignação crescente dos professores com a intransigência
e truculência do governo petista que, apostando na sua força, ignorou por
quase dois anos as reivindicações do sindicato
nacional da categoria, o Andes-SN, fato que se repetiu em dia 19/06 quando,
mais uma vez,o governo desmarcou a reunião com o sindicato alegando
impossibilidade de reunir sua equipe.
Além
das justas e necessárias reivindicações de aumento salarial, plano de carreira
e condições dignas de trabalho, a força do movimento grevista é a certeza da
urgente necessidade de dizer não
ao acelerado processo de sucateamento e privatização da universidade e educação
públicas, defendendo um projeto de universidade voltado para a classe
trabalhadora e não às demandas do mercado. Reuni, Prouni, Lei de Inovação Tecnológica
e mais tantos outras programas embelezados com siglas e propagandeados por
publicitários bem pagos nada mais são, no seu conjunto, que um ataque profundo
ao caráter público das universidades. O processo de corte de verbas e
provatização, iniciado nos anos 1990, por Collor e FHC, se aprofunda e
institucionaliza nos governos Lula e Dilma.
Com
o modelo implementado, há a transferência de verbas para a iniciativa privada e
a universidade pública perde sua autonomia. Até mesmo o já inaceitável e excludente
processo de seleção - que deveria ser abolido em favor do acesso universal à
educação pública e gratuita em todos os níveis – foi piorado e colocado a
serviço de um sistema mercadológico. A produção de conhecimento acontece cada
vez com menos autonomia e refém dos interesses do capital: a manutenção e
financiamento de importantes laboratórios e pesquisas, diante da falta de
verbas públicas, depende de projetos com o setor privado. O quadro de
profissionais tercerizados - é, em muitas universidades, até quatro vezes
superior ao quadro de funcionários públicos estatutários. Quadro que se
aprofunda no caso do serviços básicos, como segurança e limpeza, onde os serviços já são totalmente terceirizados e os
trabalhadores, superexplorados e sem quaisquer garantia de direitos .
Manifestação em defesa da educação publica durante a Rio +20 |
Um processo iniciado
na Ditadura Militar
Para entender este processo é
preciso voltar aos terríveis anos da Ditadura Militar (1964-1985) e lembrar que,
ali, se gestou um novo modelo de universidade, iniciado com o isolamento e separação
física de campus e das unidades e com
a construção de novos projetos pedagógicos, nos quais a reflexão e a criação de
conhecimento endógeneo deram lugar ao modelo fragmentário e mercantil, imposto
pelos tão criticados acordos entre o Ministério da Educação brasileiro e a
Usaid (United States Agency for International Development). Ali, como em toda a America
Latina, foram ceifadas cabeças de tantos intelectuais, professores e estudantes que defendiam uma modelo de
universidade pautado no conhecimento crítico, endógeno e questionador.
Em tempos de “Brasil: Ame-o ou deixe-o”, um dos principais slogans da ditadura, a universidade pública perde seu caráter critico tornando-se servil e obediente ao modelo de crescimento e de educação imposto pelo Fundo Monetário nternacional (FMI) e pelo Banco Mundial para America Latina: produção do de conhecimento no centro do capital e assimilação de conhecimento pela periferia. Como contrapartida, grandes obras públicas, expressivo crescimento das engenharias e áreas tecnológicas, cientistas bem formados e alienados e... endividamento externo impagável com o enriquecimento vertiginoso de alguns. Só como exemplo, citamos Mario Andreazza, Ministro de Transportes de Costa e Silva e Médici e responsável pela construção da Ponte Rio-Niterói e Transamazônica, umas das principais obras realizadas pela ditadura brasileira.
Ali, com força, prisões, torturas e assassinatos se impôs um novo modelo de sociedade e educação,especialmente para o ensino superior brasileiro. Modelo que, já enraizado, não é revertido de forma integral durante o período de redemocratização. Mas é com a chegada da década de 1990 e a implementação das políticas neoliberais que o sucateamento e privatização da educação e saúde se aprofunda. Seguindo a cartilha dos organismos internacionais - como o FMI e o Banco Mundial - os governantes brasileiros privilegiam os interesses de empresários, latifundiários e banqueiros, ao privatizar importantes setores e empresas e sucatear as necessidades básicas da população, como saúde e educação. As privatizações, acompanhadas de reformas, como a da previdência, são iniciadas no governo de Fernando Henrique Cardoso com enorme resistência da classe trabalhadora e movimentos sociais.
Governo Dilma e Governo Lula: privatização da saude e educação |
O papel do governo Lula/PT
Aparece então o necessário governo de Lula
para a burguesia nacional e internacional: a figura de um histórico líder sindical
sustenta ideologicamente a noção de um governo a serviço da classe
trabalhadora, que implementa todas as reformas iniciadas por FHC com mais
facilidade. Conta com um diferencial importante: a facilidade para neutralizar as
lutas e resistências a esses projetos. Lula cumpre perfeição o papel
desenhado pela burguesia tendo o Partido dos Trabalhadores (PT), a Central
Única dos Trabalhadores (CUT) e a União Nacional dos Estudantes (UNE) como
organismos essenciais para sua sustentação e domesticação dos trabalhadores e dos
movimentos sociais e estudantis.
Assim, a Reforma
Universitária avança de maneira fragmentada a partir de 2004, com o Programa
Universidade Para Todos (ProUni), o Sistema Nacional de Avaliação do Ensino
Superior (Sinaes), o Decreto das Fundações, a Lei de Inovação Tecnológica e
outros projetos. No segundo mandato de Lula/PT, a partir de 2007, os ataques são
ainda maiores. O Decreto 6096/07 (REUNI), alardeado como “abertura da
universidade para os filhos dos trabalhadores” amplia as vagas sem o
investimento necessário e é condicionado a metas precarizantes, reestruturando
as Universidades brasileiras para atender às demandas mercadológicas (as metas
incluem o aumento da relação professor aluno e a criação de cursos aligeirados
e precários para dar conta da formação em massa de estudantes sem as verbas
necessárias). Assim, se realizou o milagre da multiplicação das vagas e diplomas
num momento em que ,devido a reforma da previdência, diminuía
significativamente o já insuficiente
quadro de professores. Não esquecer a célebre e ameaçadora frase de José
Dirceu, Ministro da Casa Cívil,e ex- lider estudantil, ao se referir à
aprovação da reforma universitária brasileira: “o pau vai comer, como aconteceu na
reforma da previdência”.
No
governo que se elegeu prometendo melhoria da educação e saúde, o que se viu foi
a continuidade deste modelo e a consolidação de sua implementação, com o
carreirista Fernando Hadadd, Ministro de Educação e hoje aliado oficial de
Paulo Maluf, um dos ícones da direita e da ditadura no Brasil! Já no seu
primeiro ano, o Governo de Dilma/PT corta mais de 5 bilhões do orçamento para a
área da educação enquanto continua auxiliando montadoras, banqueiros e empresários.
Agora, quando a crise é o argumento para não conceder aumento de salário aos
professores e funcionários, às bolsas dos alunos de graduação e pós-graduação e
as demandas por assistência estudantil, o Banco do Brasil negocia a compra da
metade do capital do Banco Votorantim (que anunciou recentemente prejuízo de R$
597 milhões devido ao desaquecimento do mercado de carros usados).
Os
resultados desta política apareceram logo após o período eleitoral:
precarização do trabalho docente e a total desestruturação da Universidade
pública brasileira. Agora, cinco anos após a implementação do Reuni, a greve
nacional expressa claramente as consequências desse projeto. No cotidiano das
diferentes universidades públicas federais nos deparamos com os mesmos
problemas: falta de professores, falta de sala de aula, falta de laboratórios,
hospital universitários (HU) sem emergência e sucateados, sendo a implosão de
parte do HU da UFRJ, o número expressivo de professores substitutos, a
inviabilidade de seus grandes laboratórios de referencia apenas alguns exemplos
do sucateamento das universidades.
Greve em defesa da educação pública! |
A greve e a luta
Como
resposta a este alarmante quadro apresentado e a ausência de negociações surge
a luta unificada de todos os segmentos das Universidades. A luta dos docentes
das Universidades Federais serviu como estopim para um processo bem mais amplo.
Agora, com técnicos administrativos e estudantes em greve, o Governo Dilma, que
primeiro se negava a negociar, “pede trégua “. Com o crescimento da luta se coloca também em xeque o arco de alianças
do Governo Dilma. No Rio de janeiro, sede da Rio+20, os docentes da
Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) também deflagraram greve para
enfrentar os ataques de Sergio Cabral, governador que massacra bombeiros, prende estudantes e
professores, desaloja e criminaliza os movimentos pela moradia enquanto se
diverte na Europa junto com seu amigo Cavendish, empreiteiro beneficiado pelas
grandes obras do estado!
A
realidade, tão dura, mostra que os trabalhadores, estudantes e movimentos
sociais nada tem a esperar do Governo Dilma/Pt e dês seus aliados,
especialmente em tempo de eleições e crise do capital. Assim resta aos trabalhadores
a luta organizada em defesa de seus direito e em contraposição com as políticas
que vem sendo implementadas.
Um saldo positivo
deste processo é reconhecimento da necessidade de organismos de lutas que
unifiquem e organizem as lutas dos trabalhadores brasileiros e do importante
papel cumprido pelo ANDES-SN,que em contraposição ao sindicato pelego Proifes (criado
pelo governo petista), organiza representa e negocia em nome do movimento
docente. É preciso avançar ainda mais na
construção das lutas e na unidade com os demais segmentos em greve para
arrancar vitórias concretas. Da mesma forma, fica claro ao movimento estudantil
que a UNE, financiada e sustentada pelo governo petista, já não representa os
que lutam. E, neste momento, tornam-se claros os limites e a incapacidade da
ANEL - Assembleia Nacional dos Estudantes-Livre (construída muitas vezes
superestruturalmente e como uma corrente do movimento estudantil, sem
consolidar a política necessária a uma nova entidade para os estudantes que
lutam), em unificar objetivamente as mobilizações e alçá-las a um patamar
superior.
O atual processo, com a constituição de Comandos Nacionais de Greve das categorias, expressa a necessidade de unificarmos as lutas em um grande enfrentamento ao governo e suas políticas. Entendemos que esse enfrentamento se faz em escala nacional e local, também em cada universidade, buscando vitórias concretas que se contraponham à lógica privatista e de sucateamento e consolidem a construção do nosso projeto de universidade, pública, gratuita, de qualidade e voltada para a classe trabalhadora. Por isso, é preciso entender que as lutas imediatas por melhorias estruturais, bolsas, assistência estudanti e salários devem ser travadas de maneira unificada com as lutas mais gerais, como o financiamento de 10% do PIB para a educação imediatamente, a derrota do Plano Nacional de Educação mercantilista e privatista do governo, a revogação do Reuni e suas metas, entre outras.
A UNE não fal em nosso nome! Por uma nova organização estudantil a serviço das lutas dos estudantes! |
Ao mesmo tempo, os
Comandos de Greve precisam atuar unificadamente: é urgente a constituição de um
Comando Nacional de Greve Unificado de todas as categorias em greve, que
pressione o governo, negocie unitariamente e, baseado na força da greve,
arranque vitórias. Os Comandos precisam funcionar com autonomia e expressando o
vigor da nossa luta, representando aqueles que constroem a mobilização em cada
local.
No caso do movimento estudantil, que enfrenta a atuação da UNE, comprometida com o governo, para neutralizar a luta e impedir a greve de se enfrentar com os projetos de Dilma, a construção do Comando expressa não apenas a necessidade de constituição de um instrumento mais amplo que a entidade, mas também que se coloque contra a política por ela implementada. Temos defendido isso em todos os espaços e a recente traição da UNE, que sentou para negociar com o Ministro da Educação em nome do movimento (depois de comemorar a aprovação parcial do PNE precarizante e a meta de 10% do PIB para a educação em 10 anos, pauta oposta à da greve), não deixa dúvidas dessa necessidade. O Comando é o legítimo representante da greve estudantil, e não a UNE. E quando não tivermos mais greve, os estudantes em luta ficarão sem um instrumento nacional para unificá-los? Isso expressa, mais uma vez, a necessidade de criação de um novo instrumento nacional que esteja à altura da tarefa de unificar as lutas e conquistar vitórias.
Viva a greve nacional das universidades
públicas! Por imediata negociação e atendimento das pautas de professores,
funcionários e estudantes em greve!
Por uma nova organização estudantil a serviço
das lutas dos estudantes!
Que a CSP-Conlutas avance como uma nova
central sindical a serviço da classe trabalhadora!
A luta, companheiros, rumo a construção dos
caminhos e organismos a serviço da classe trabalhadora, dos movimentos sociais
e da juventude brasileira.
Coletivo
Marxista
Um comentário:
Pra quem adora criticar o governo e atacar o Sérgio Cabral saiu uma notícia muito boa pro nosso estado! O Rio vai receber um investimento muito bom em todo o estado. Agora vocês não vão ter mais o que falar...
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