Manifestação no Centro do Rio de Janeiro no dia 17/6
As intensas mobilizações que marcaram o
Brasil no mês de junho indicam, e isso já está claro, uma importante ruptura no
cenário político nacional. A população brasileira
não está de chuteiras, como gostariam os governantes, os veículos de
comunicação e os grandes empresários beneficiados pela mercantilização dos
direitos e da vida da população trabalhadora, que foi para as ruas reclamando do
aumento das passagens de ônibus, da precária qualidade do transporte púbico e exigindo
a garantia de um dos seus direitos mais básicos: mobilidade nos grandes centros
urbanos.
Entre os que
protestam estão estudantes e uma parcela da população que gasta mais de 30% do
seu salário em transportes precários e absurdamente desumanos e que precisa dormir
nas ruas para poder trabalhar e comer. Estão nas ruas os que experimentam
diariamente a violência urbana indiscriminada que cresce assustadoramente nas periferias
e no interior, como resultado da falsa política de “pacificação” que maquia as
grandes metrópoles, embelezadas para os megaeventos esportivos. O produto desta
“pacificação” midiatizada é a transferência do tráfico para periferia, que lá
determina a vida e morte dos trabalhadores e sua hora de recolher.
A questão do aumento
das tarifas dos transportes, estopim do processo de lutas, indica a
insatisfação contida em relação à precarização de um direito que torna-se, ao
ser mercantilizado, espaço de apropriação privada e um negócio que rende
vultuosos lucros às empresas mafiosas que - intimamente associadas aos poderes
públicos - recebem o direito de operar esses serviços.
Esse estopim
consegue, assim, canalizar uma série de insatisfações, sintetizando uma
insatisfação geral associada à precarização das condições de vida e dos
serviços públicos, à alta do custo de vida - verificada intensamente nos
produtos de primeira necessidade, como alimentos - e à lógica geral de
transformação de direitos em mercadorias lucrativas aos grandes empresários. Trata-se
de um quadro de contradições até então latentes, composto pelo cenário de crise
econômica internacional e seus impactos na economia brasileira, as mobilizações
pelo mundo que dela resultam e, notadamente, a realização dos megaeventos
esportivos no Brasil. A proximidade dos grandes eventos escancara a discrepância
entre os vultuosos investimentos públicos destinados à sua viabilização e a precária
situação nos serviços públicos elementares de saúde, educação, transporte e
outros, colocando em xeque as prioridades dos governos e suas relações escusas
com os interesses do grande poder econômico.
As mobilizações,
assim, surgem em um quadro geral de precarização das condições de vida e privatização
de direitos, em que as cidades são transformadas, cada vez mais, em centros
captadores de investimentos multi-milionários que roubam o direito ao espaço
público, à moradia digna, à circulação e vida nas metrópoles. O que explode,
mesmo que de forma inconsciente, é um “não” reprimido a este projeto de cidade e país excludente.
Se é verdade que, diante de um quadro
como esse, não pode causar surpresa ou incompreensão a irrupção de lutas e
mobilizações que generalizem-se por todo o país, que tem causas bastante
concretas, é igualmente verdadeiro que, na primeira semana de junho, ninguém
apostava que estávamos prestes a presenciar, nos dias seguintes, o ressurgimento
do movimento de massas no Brasil depois de tantas décadas. Nem mesmo os grupos
políticos organizados, partidos da esquerda e movimentos sociais que estiveram
nas ruas lutando contra a precarização e privatização da educação e saúde públicas,
denunciando os massacres de Pinheirinho, a desocupação e truculência da
repressão policial na Aldeia Maracanã, as greves da construção civil, a
repressão contra os bombeiros, o inaceitável entreguismo dos leilões do
petróleo e tantos outros.
Milhões nas ruas e os novos desafios
Os protestos que
aglutinaram mil, cinco, dez, quinze mil pessoas passaram a reunir cem,
duzentas, trezentas mil e, há quem estime, mais de um milhão de pessoas no Rio de Janeiro no último dia 20, e espalharam-se
por cerca de 450 cidades em todo o país. Os governos e a mídia, atônitos e amedrontados,
tentaram e tentam de todas as formas calar, acabar ou domesticar o movimento. A
grande mídia, depois de usar as armas usuais e tentar criminalizar e
desqualificar o movimento, percebe sua grandeza e muda de tática. Literalmente
do dia pra noite, muda de posição na segunda semana de protestos e passa a “apoiá-los”,
“incentivá-los”, buscando impor-lhe uma pauta abstrata, asséptica e domesticada
e dividir claramente os manifestantes entre “pacíficos” e “vândalos”,
justificando assim a violência e a repressão policiais.
A massa que sai às
ruas nesse primeiro momento, composta especialmente de parcelas de uma
juventude que pela primeira vez experimentam processos de participação
política, não poderia aparecer nesse cenário com uma consciência diferente
daquela marcada por anos de apatia, descrédito generalizado na política e nos
projetos coletivos de maneira geral. Mais do que tudo esta é uma experiência particularmente
inusitada para grande parcela da juventude, bombardeada sem piedade pela
criminosa rede de programações da Globo e da grande mídia comercial e por uma
educação instrumental e altamente alienante. Jovens que, na sua grande maioria,
identificam a política apenas como atividades dos parlamentares corruptos e de
um Estado gestor de negócios para enriquecimento das burguesias nacional e internacional.
O fato de esse
segmento ter rompido com a inércia, ter sentido mais concretamente as
contradições que determinam suas condições de vida e ter se disposto a expressar
nas ruas sua insatisfação não poderia, obviamente, significar que do dia para a
noite esses milhões adquiriram uma profunda consciência acerca de suas próprias
insatisfações e, menos ainda, de seu projeto para superá-las. Trata-se, assim,
de uma consciência confusa, dúbia. Observa-se o questionamento radicalizado à
precarização dos serviços públicos, aos lucros dos grandes empresários com
aquilo que deveriam ser direitos, aos gastos públicos operados pelos governos
em benefício do grande capital e todo o conjunto de fatores que expusemos
acima, claramente associados a uma pauta popular e, ao mesmo tempo, uma
absorção da pauta imposta pela grande mídia. O questionamento abstrato e genérico
“à corrupção”, as críticas de cunho moral “aos políticos”, o nacionalismo como
forma de sufocar as diferentes expressões e propostas políticas para o país
etc. A palavra de ordem “Eu sou brasileiro com muito orgulho, com muito amor”,
sabiamente puxada por aqueles que querem acobertar as contradições de classe,
tenta e consegue calar fundo numa juventude que busca sentimento de
identidade.
Esse senso comum,
dúbio, confuso, é ainda fortemente marcado por um rechaço generalizado à
política institucional e aos partidos políticos. O repúdio aos escândalos de
corrupção, ao vale-tudo eleitoral e ao distanciamento da política parlamentar
em relação à vida real da população se combina à frustração específica com o
governo petista, sua adaptação à ordem e reprodução dos mesmos mecanismos que
criticava, incidindo muito fortemente sobre a juventude. No entanto, esse
rechaço à política oficial se generaliza de maneira despolitizada e
direciona-se ao conjunto dos partidos, atingindo especialmente aqueles que se constroem
em dinâmica oposta a essa lógica, que nunca saíram das ruas e que
protagonizaram mobilizações mesmo nos momentos de maior refluxo: os partidos
que, por isso mesmo, participaram da construção dos protestos antes de sua
massificação e que passam a ser vistos nos atos pelos milhões que até então não
estavam nas ruas.
Essa consciência
confusa, assim, passa a rechaçar fortemente a presença dos partidos da esquerda
e ser aproveitada de maneira muito consciente pela grande mídia, pelos partidos
da ordem, da oposição de direita ao PT, e também por pequenos grupos fascistas
que passam a ir aos protestos com o único objetivo de expulsar a esquerda das
lutas. Incitando o rechaço aos partidos e apoiando-se na sustentação da massa,
esses grupos agrediram violentamente militantes da esquerda, organizados em
partidos, sindicatos e movimentos sociais em várias cidades do país, inclusive
em São Paulo e Rio de Janeiro. No Rio, o Coletivo Marxista esteve na coluna
organizada pela esquerda e foi, como o conjunto de lutadores que a compunham,
hostilizado e ameaçado. Era possível identificar, entre os que se dedicavam à
violência física contra a esquerda, policiais infiltrados, grupos de
ultra-direita e lumpens pagos pelo Estado para agredir a militância.
Os militantes do PCB
e, mais especificamente, PSTU, foram brutalmente espancados no ato, pelo
simples fato de serem militantes de esquerda e defenderem o direito de estarem
ali com suas bandeiras e sua política. É preciso registrar: a cobertura da grande
mídia, ao estimular a rejeição aos partidos, destacar e parabenizar as
manifestações por “não terem tolerado a partidarização” (como a coluna do
senhor Merval Pereira no Globo de 21 de junho, um dia após o espancamento dos
militantes) e, ainda, referir-se a “confrontos” entre “manifestantes e partidários”
é criminosa e igualmente responsável pelos atos fascistas de violência
direcionada aos partidos de esquerda.
Como parte desse
mesmo processo repressivo e de intimidação, a violência “oficial” do Estado foi
brutal na noite do dia 20 no Rio de Janeiro. A exemplo da repressão
generalizada em São Paulo no dia 13, a Polícia Militar (atuando com seu
Batalhão de Choque, o Bope e até a Força Nacional de Segurança) de Cabral
sitiou a cidade, perseguiu manifestantes, encurralou-os, violou todo tipo de direitos
e chegou a deixar cercados a (simbólica na resistência à Ditadura) Faculdade
Nacional de Direito da UFRJ, o Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da
UFRJ e a sede do PCB. Tentou invadir sindicatos, jogou bombas em bares, prédios e até em hospital, reprimiu indiscriminadamente e instaurou um estado de terror que se
agravou drasticamente na terça-feira seguinte, na chacina contra o povo pobre e
negro operada na Favela Nova Holanda, na Maré.
Assim, o cenário que
se abriu a partir de pautas populares e lutas identificadas com a defesa de
direitos e contra os interesses privatistas se complexifica: grande mídia
atuando para sequestrar a pauta política e diluí-la, confusão entre a pauta
concreta e a domesticada, aparecimento de um nacionalismo exacerbado, de pautas
conservadoras, atuação da ultra-direita, espancamento de militantes organizados
e repressão violenta do Estado passaram a compor o quadro aberto com a retomada
do movimento de massas no Brasil.
Temor em relação a um “golpe” e as tarefas da
esquerda
Este quadro gerou
leituras (e um temor honesto entre muitos militantes da esquerda) de que estaríamos
diante da possibilidade (ou mesmo da iminência) de um golpe e da ascensão do
fascismo no Brasil. Aqui afirmamos: o Coletivo Marxista avalia que não estamos
diante de um cenário pré-golpe. É preciso entender que golpes se fazem em
situações específicas, com condições históricas, econômicas e políticas e
diante de necessidades de classe. A burguesia, hoje, não tem interesse em
operar um golpe no Brasil e não precisa abrir mão da democracia burguesa (sua
forma preferencial de dominação) para garantir seus interesses de classe. As
forças armadas, que são decisivas em apoio e sustentação em qualquer golpe
(mesmo que não destinado à forma usual de instauração de Ditaduras Militares
para garantia dos interesses burgueses), não demonstram hoje qualquer inclinação
para cisões ou movimentos de apoio a frações de classe interessados em golpear
o Estado. Obviamente, a burguesia (com todas as suas contradições internas,
frações e disputas) busca se localizar nesse novo cenário, incidir na disputa
dos rumos políticos, como não poderia deixar de ser. Mas dentro do jogo democrático-burguês.
Mesmo a proeminência
da figura de Joaquim Barbosa, inflada na esteira da “limpeza moral da política”,
com seus traços bonapartistas, a aparência de colocar-se acima das classes em
conflito, não representa concretamente nenhum segmento interessado em operar um
golpe de Estado na atual conjuntura. Joaquim é cotado, inclusive, pela
burguesia tradicional como alternativa no jogo democrático burguês. Já o
aparecimento, nos atos, dos pequenos grupos de ultra direita, neonazistas,
coloca na ordem do dia uma série de imprescindíveis reflexões sobre o
aguçamento da conjuntura, a desagregação social diante do atual cenário, a
necessidade de uma resposta efetiva da esquerda e muitas outras. Mas,
especificamente em relação ao temor de golpe, não há qualquer indício de que
esses grupos teriam condições de produzir um processo de massas orientado à
ultra-direita hoje.
É preciso também
lembrar, sobretudo a uma nova geração de lutadores, que a repressão que estamos
assistindo é compatível com a democracia burguesa. A geração que não vivenciou
experiências de mobilização radicalizada tende a confiar na “aparência livre”
das relações sob a democracia burguesa, tendo como referência histórica de
repressão a Ditadura Militar brasileira. Assim, a escalada de repressão aos
movimentos parece um sinônimo de que o regime democrático burguês estaria
ruindo. Mas é absolutamente compatível com a democracia burguesa um Estado mais
repressivo e violento com os movimentos sociais, porque a democracia burguesa,
como define Eric Sachs em “Classes e Estado – Democracia e Ditadura”, é também
uma forma de ditadura. Ela serve para garantir violentamente os interesses de
uma classe sobre outra, já que mantém na base da sociedade contradições
insolúveis. A violência é necessária para a manutenção desta irracional ordem
de funcionamento da sociedade. Ela exige um Estado violento, que sempre usará seus
aparatos repressivos para garantir a ordem irracional em que estabelece a
sociedade capitalista estruturada em classes.
Destacando que as
formas democráticas são ditaduras veladas, mas exercidas diretamente pela
burguesia (sua forma prioritária, portanto), Sachs as diferencia das Ditaduras
Militares (que são ditaduras abertas, declaradas, mas exercidas indiretamente
pela burguesia – mecanismo do qual a burguesia lança mão apenas quando não tem
condições, como classe, de gerir diretamente o poder de Estado diante das
contradições colocadas) lembrando, sempre, que essa diferenciação não é um mero
detalhe. Faz, objetivamente, diferença para os que lutam estarmos sob um regime
democrático-burguês, com suas conquistas parciais, ou uma ditadura burguesa, na
qual as condições de repressão e violação são muito superiores. Precisamos, inclusive,
saber utilizar as melhores condições para a luta oferecidas pela democracia,
reivindicando a garantia do direito à manifestação, à liberdade política e
todas as conquistas parciais. Mas isso não muda o fato de que as conquistas na
democracia burguesa são parciais, limitadas e não excluem o uso da força e da
repressão, típico de uma ditadura velada.
A base de apoio do
governo Dilma, por sua vez, correu a difundir esse temor em relação a um golpe
e apontar que o momento seria de sair das ruas, frear as mobilizações e agir
prudentemente para não fortalecer os golpistas, chegando a indicar que o
caminho seria uma ampla unidade democrática em apoio à Dilma contra o golpe. De
nosso ponto de vista, o caminho é oposto: é hora de permanecer nas ruas,
fortalecer as mobilizações, disputar os rumos do processo, incidir nas contradições
concretas que motivaram o ascenso e determinam a materialidade das lutas,
construindo as dinâmicas necessárias para que esse processo encontre sua
canalização no enfrentamento aos reais responsáveis pela crescente insatisfação
com as condições de vida e na construção das necessárias alternativas
históricas à superação dessas condições.
Nesse processo,
precisamos também estar permanentemente atentos à tentativa do governo Dilma/PT
de institucionalizar as lutas e esvaziá-las em seu potencial de questionamento
ao poder econômico com o qual o governo está comprometido. Os cinco pactos
propostos pelo governo, hierarquizados pela “responsabilidade fiscal”, não
deixam dúvidas de que o ponto de partida da resposta elaborada pelo PT é o limite
de seu comprometimento com o grande capital. Não é possível, ao mesmo tempo,
garantir os interesses desse capital e avançar na garantia dos direitos por
eles mercantilizados e transformados em meios de obtenção de lucros. Por isso,
a possibilidade de garantia dos direitos passa pelo vigor das lutas nas ruas,
com propostas e exigências concretas que reflitam as reais necessidades dos
trabalhadores e da juventude.
O sentido das lutas: concretizar a pauta, disputar
consciências, inserir os trabalhadores organizados no processo
A derrubada do
aumento das tarifas dos transportes em muitas cidades é um passo importante,
uma primeira demonstração pedagógica de que, com mobilização, luta e
organização coletiva, é possível conquistar. Ainda há muito a avançar,
inclusive na pauta dos transportes. É preciso garantir que a diferença no preço
das tarifas saia do bolso das máfias dos transportes, e não do dinheiro
público, e caminhar para a conquista do passe-livre e de um transporte
estatizado, para que possa ser integralmente público e não administrado por
empresas privadas que encaram como uma fonte de lucro.
Mas as tarefas
colocadas para esse momento vão muito além. Como dissemos acima, o Coletivo
Marxista defende a continuidade das mobilizações e aposta nesse momento como
chave para a disputa dos rumos do (re)nascente movimento de massas no Brasil.
Está claro que, a partir de agora, as lutas e processos políticos no país não
ocorrerão mais no mesmo patamar. As intensas mobilizações recolocam o lugar da
ação coletiva e despertam para a política segmentos até então atomizados e
individualizados em suas vidas particulares. Isso é muito importante.
Acreditamos que um
processo rico como esse precisa ser compreendido em sua complexidade, com todas
as questões e desafios que coloca. Neste cenário, é simplista e apressada qualquer
avaliação que considere que simplesmente uma direção forte das manifestações e
do processo poderia construir uma representatividade e definir os seus rumos. O
que está em jogo é a explosão de um movimento de massas que não se canaliza
para as dinâmicas e organismos que o movimento social foi capaz de produzir em
sua reorganização. Um movimento de massas com potencial, que, com a consciência
espontânea confusa, não tem qualquer referência “natural” que o encaminhe
necessariamente a reconhecer uma direção política de esquerda.
Nossas tarefas passam por sermos
capazes de identificar, nas formas e condições sob as quais se apresenta o
movimento, os caminhos para a potencialização daquilo que trazem de mais sadio,
mais orgânico. De nosso ponto de vista, parte disso está na concretização de uma pauta objetiva, pela base
e identificada com as insatisfações e reivindicações imediatas dos
trabalhadores e da juventude, que se oriente no sentido da crítica ao projeto
privatista, da defesa dos direitos ao transporte, saúde, educação, moradia e o
próprio direito à cidade como contraposição às exceções promovidas pelos
megaeventos, assim como do direito à liberdade política e o enfrentamento à
repressão do Estado e à polícia militarizada.
Junto a isso, é indispensável,
como elemento alterador da correlação de forças, a entrada em cena da classe
trabalhadora organizada, com suas reivindicações e seus organismos. Para isso, é
também necessário que a esquerda compreenda a magnitude das tarefas colocadas e
não se perca em hegemonismos que apenas artificializam a luta. Não temos dúvida
de que a construção de uma greve geral no mês de julho é fundamental e um
caminho indispensável ao avanço das lutas e mobilizações. No entanto, sua
construção precisa ser dinâmica, ser capaz de colar, pela base, as lutas das
categorias por suas pautas econômicas com as pautas produzidas pelo ascenso, organicizando
a construção de greve e produzindo-a, de fato, como instrumento que coloque as
lutas em outro patamar.
Dessa forma, apontamos os limites
da “greve geral” de 11 de julho, que concretamente será um dia de paralisações
e lutas convocados pelas centrais sindicais. Participaremos desse dia de lutas
e estamos construindo-o politicamente em todas as frentes em que atuamos, mas é
preciso dizer que, da forma como foi convocado e construído, está longe de
responder às tarefas e à dinâmica assumida pelo movimento na atual conjuntura.
A construção efetiva de uma vigorosa greve geral, capaz de alavancar as lutas
em curso e consolidá-las com uma pauta que garanta avanços concretos, precisa
ser muito mais profunda do que uma simples convocação pelas centrais sindicais
a partir de acordos genéricos na pauta. A definição dos eixos, a forma de colá-los às
especificidades das categorias e às mobilizações de todo o país, as dinâmicas
que iremos propor para potencializar essas mobilizações e os organismos que elas
vêm produzindo espontaneamente, enfim, todas essas e muitas outras questões
precisam ser fruto de uma reflexão que vá para além da convocação formal
imediata através dos fóruns superestruturais anteriores ao ascenso.
Chamamos, neste momento, o
conjunto da esquerda, dos partidos e movimentos sociais a uma reflexão conjunta,
livre de hegemonismos e disputas por aparatos. Defendemos a criação de uma
Frente, com espaços de interlocução que possam, levando em conta a complexidade
e riqueza do momento, produzir reflexões superiores às que qualquer uma das
correntes hoje seria capaz de fazer individualmente, e nos conduzir a uma
atuação de fato unificada para a disputa dos rumos do movimento de massa
brasileiro.
O Coletivo Marxista, presente nas lutas pela construção de uma
sociedade sem classes e igualitária, esteve e estará nas ruas participando dos
protestos que se espalham pelo Brasil. Partidários que somos da substituição
deste excludente modelo de sociedade e vivenciando, diariamente, o
aprofundamento da barbárie que se espalha de forma generalizada pelo Brasil,
partilhamos deste sentimento de revolta e desejo de transformações que explode nas
manifestações. Nas ruas e nas praças, reconquistando os espaços públicos,
empunhando nossas bandeiras e lutando pela transformação social profunda do
capitalismo.
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