O Coletivo Marxista
reafirma a sua posição de voto nulo para a Presidência da República nas
eleições burguesas de 2014.
Nossa
posição de voto nulo não é uma reafirmação mecanicista de nosso posicionamento
anterior para o primeiro turno, mas sim fruto da avaliação de que a disputa presidencial,
polarizada entre a candidatura de Aécio Neves e Dilma Rousseff, não deixa outra opção para aqueles que defendem
o projeto histórico do socialismo e assumem, como tarefa diária, a abertura e
pavimentação dos caminhos que nos levarão a esta conquista.
A falsa polarização entre uma “mudança”
capitaneada pelo PSDB e a continuidade do mesmo, o mesmo que nos levou e nos
leva às ruas e às lutas contra a implementação aprofundada das políticas
neoliberais associadas, como exigência, à criminalização da pobreza e do
ativismo social. E não esqueçamos a forma que nos reprimiram: com o uso de extrema
violência, arbítrio e repressão. Nossas tarefas não passam pelos caminhos
ilusórios do imediatismo. E, sabemos, nada ganharemos em usar este momento de
politização para debater e escolher entre
um governo de extrema direita e outro, o governo petista, que como
denunciamos sistematicamente, tornou-se um eficiente agente para implementação
das políticas neoliberais que dão sobrevida ao capital e aprofundam a barbárie
em terras brasileiras usando, justamente, o discurso alicerçado no seu passado
e nos vínculos ideológicos com a classe trabalhadora.
É possível, então, que para barrar o PSDB de Aécio,
Fernando Henrique, Serra e Alckmin, entre outros, nos reste apenas a opção
imediatista de votar no governo petista?
Vamos submergir no imediatismo “pragmático” e por hipnose esquecer - só para
citar alguns exemplos - da Copa da FIFA, dos meganegócios, da Usina de Belo
Monte, das greves de Jirau, da usurpação das terras indígenas, dos leilões do petróleo,
das tropas no Haiti, da reforma da previdência, da reforma universitária, da
violenta repressão aos movimentos sociais, da criação da guarda nacional, da
morte de tantos ativistas e sindicalistas, até hoje impunes? Não, não é esta a
tarefa que cabe a esquerda socialista e revolucionária.
É preciso
desconstruir a esperança de reais mudanças com o governo Dilma, e também
preciso repudiar a “mudança” Aécio, construída pela Globo, pela Veja e pela ala mais conservadora
da sociedade brasileira, que vota em Alckmin e Bolsonaro. O eco da “mudança”
com Aécio é mais uma sinal do conservadorismo e da falta de politização de uma
grande parcela da sociedade brasileira, desinformada pelos meios de comunicação
hegemônicos que, apenas pra destacar um exemplo, só depois da reeleição de
Alckmin noticiam a trágica crise de água
em São Paulo. A mesma grande mídia que esconde o que foi o governo FHC
com a privataria das telecomunicações, a asfixia das universidades públicas, a violência
com que reprimiu os movimentos sociais e manifestações e nunca fala ou relembra
de Pinheirinho. Apenas alguns dos tantos exemplos que precisam ser
lembrados e analisados, já que avaliação política não se faz apoiada nos efeitos
midiáticos, criados pelos marqueteiros bem pagos, mas na materialização das
políticas implementadas.
Votamos nulo
porque nosso projeto precisa ir muito além da escolha entre o projeto
neoliberal, conservador e retrógrado do PSDB e o petista, orientado pelos
mesmos fundamentos, mas travestido de progressismo. Certamente há diferenças,
mas todas elas circunscritas à forma de gerir o capital em crise. Apostar nesta
diferenciação, ressaltando o caráter
neodesenvolvimentista e “popular” dos governos petistas, é uma análise primária,
que não se sustenta na realidade concreta, especialmente para
aqueles que, como o Coletivo Marxista, sustentam suas avaliações na Teoria da
Dependência que teve em Ruy Mauro Marini
um de seu principais formuladores. Arma importante para entender e encontrar os
reais caminhos para a superação da miséria e da barbárie nos países dependentes,
que nos mostra que nossos problemas não são ‘falta de desenvolvimento’ e sim
justamente o resultado do desenvolvimento que cabe aos países periféricos no
mundo capitalista.
É para isto que
militamos. Não fazemos, como diz Paulo Arantes, no seu brilhante O Novo Tempo do Mundo, “uma fuga para
frente” que consiste apenas em adiar o terrível futuro que nos espera se não
destruirmos a lógica do capital. Nossa tarefa é agora negar este imediatismo e procurar
e criar os caminhos para superação e derrota do capital. Assim, não podemos
referendar e nem compactuar com o imediatismo raso que tem se intensificado nestes
últimos dias da corrida presidencial e que faz com que uma grande parte do eleitorado
progressista e mesmo parte da esquerda combativa e socialista apoie com mais e
mais intensidade a candidatura Dilma. Os apoios, que se iniciaram com diferentes
matizes políticos, agora se intensificam numa quase que defesa incondicional do
governo Dilma. É fácil entender que assim sejam vistas a indignação e a revolta que
causa a arrogância desrespeitosa de Aécio e das manifestações da extrema
direita que o apoiam, tão bem representadas
por Rodrigo Constantino, edições da Veja,
dos infinitos comentaristas da Rede Globo e dos fascistas de carteirinha que se
sentem autorizados a exercer sua brutalidade retrógrada pelas ruas .
Mas o voto
crítico em Dilma, opção de parte da esquerda combativa, como um voto de veto ao
PSDB, e daqueles que, simples assim, nos avisam que é preciso escolher alguém
para presidência e votar no “menos pior” para impedir o retrocesso maior que
seria o retorno do PSDB ao poder, ignora a necessidade urgente do debate
estratégico e de projeto para a esquerda brasileira, reduzindo as análises
conjunturais ao imediatismo eleitoral e adiando a construção de uma alternativa
à altura das lutas e nossos desafios. Trata-se, portanto, apenas de escolher
entre um programa neoliberal ortodoxo do PSDB ou do social-liberaslismo
petista, resultado do desenvolvimento do Programa Democrático-Popular, duas
formas distintas de aplicar o mesmo conteúdo: a manutenção e ampliação do
sistema capitalista?
Para nós, não. Não
temos dúvida que algumas políticas sociais, sobretudo o Bolsa Família, que aparecem
como carro-chefe do PT para propalar a “erradicação da pobreza”, têm
efetividade. Mas que fique claro, são políticas focais, destinadas apenas a uma
parcela da classe trabalhadora, atingindo aos seus setores mais miseráveis e obedecendo
o receituário do Banco Mundial, não atacando os problemas estruturais e sendo
extremamente restritas inclusive para aquilo que se propõem, o emergencial e
imediato a partir das políticas compensatórias imediatas. Reconhecemos
iniciativas como Bolsa Família e sua importância concreta na vida de milhões de
brasileiros em situação de miséria. E queremos mais, aquilo que o governo
petista não pode fazer. Esta é, apesar
dos avanços concretos, uma política de administração da miséria e da pobreza, destinada
a conter seus efeitos extremos e incluir a população miserável pela perspectiva
do consumo. Nós queremos a superação desta lógica que se sustenta no superávit
primário, política de juros altos, liberalização do mercado para o grande
capital internacional, e, por fim, manutenção da política de privatização e da
entrega de nossas riquezas naturais ao grande capital.
Então, nós marxistas e, portanto, comunistas,
temos por obrigação usar este momento de maior politização da sociedade para exercer
nossa prática militante que busca uma ampliação da consciência da classe
trabalhadora e dialoga com o resgate da utopia
pautada num projeto coletivo totalizante. Projeto que exige a criação de uma
alternativa em direção à criação de um partido com projeto de classe,
revolucionário, única alternativa capaz de enfrentar o capital em crise e derrotar
a barbárie
É preciso ir além da
polarização entre PT e PSDB e superar a profunda confusão e desorientação
ideológica decorrente da experiência com os governos petistas, em grande parte
capturada pelo discurso conservador e paralisante de que ‘não existe esquerda e
direita’ e de ‘todos partidos são iguais’ e de que ‘políticos quando chegam ao
poder sempre se vendem’. A frustração com o governo petista não pode ser
capturada à direita e transformada em discurso moralista e desmobilizador.
Não somos iguais e é preciso mostrar em que nos
diferenciamos. E para isso, é preciso repudiar a direita tradicional e negar a
direita que está no governo e se apresenta como ‘popular’ depois de 12 anos
governando para os mesmos. É preciso combater o culto individualista e
espontaneísta que nega os partidos em geral e mostrar que é preciso ir além,
muito além. É preciso mostrar em que nos diferenciamos dos partidos burgueses e
pautar a necessária organização estratégica, que se materializa na criação de
um partido revolucionário. Não podemos nos furtar a tarefa.
Baseado nestas premissas, o Coletivo Marxista vota
nulo e pauta a necessidade da urgente
criação de um movimento unificado e autônomo a serviço do protagonismo da
classe trabalhadora.
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