*Thiago Coqueiro e Rian
Rodrigues
Militantes do Coletivo Marxista
Sabemos
que a data 13 de maio é divulgada pela grande burguesia como mera ação da
Princesa Isabel para libertar os negros e as negras. Justamente por isso,
historicamente não comemoramos esta data. Dia 20 de novembro, dia da Consciência
Negra, dia de Zumbi é nosso dia! Mas a disputa pelo sentido da data 13 de maio
sempre esteve calcada na tentativa de retirar dos negros o seu potencial
revolucionário de transformação da sociedade capitalista enquanto parte
fundamental da classe trabalhadora brasileira.
Enquanto
peças chaves para reprodução do sistema escravista, a trabalhadora e o
trabalhador negros escravizados seriam também parte indispensável para
organizar e derrubar as estruturas do sistema que os oprimia. O controle e a força estatal eram necessários
para garantir a ordem: judiciário, tropas imperiais, legislativo, para que
assim pudessem controlar as e os trabalhadores negros e impedir suas diversas
formas de resistência. Vale ressaltar que a morte do negro não era bem vista
pelos grandes latifundiários, pois o negro era visto como mercadoria e não como
ser humano.
Conjuntamente,
foi se constituindo e desenvolvendo a ideologia do racismo, ou seja, um
conjunto de ideias que emergem desta realidade concreta específica, e que ajuda
a justificar a posição que o negro ocupa na sociedade. Retira, também, do principal opositor ao sistema
a sua força de lutar. Esta ideologia está presente em todos os ramos da nossa
sociedade, na ciência, no setor produtivo, na escola, nas instituições, na vida
cotidiana em geral. Assim, o racismo estrutural brasileiro tem sua gênese no
desenvolvimento do sistema capitalista dependente deste país, calcado na
exploração do ser humano pelo ser humano, ou, do branco burguês sobre o negro
escravizado.
Apesar
das condições adversas para a luta, dela o povo negro nunca se retirou. Sim,
criaram diversas formas de luta que eram moldadas pela especificidade de cada
localidade e ramos de trabalho onde o negro estava inserido. Podemos citar
algumas: as primeiras greves brasileiras - realizadas por escravos; formação
dos quilombos; revoltas; rebeliões; banzo; assassinato de senhores. Essas ações
coletivas ou individuais constituíram um caldeirão de lutas contra a opressão, e
irmanados com vários setores como sindicatos, negros forros, parlamentares, e
principalmente com os camaradas, irmãos e irmãs que já haviam conquistado a sua
liberdade. Essa conjuntura foi determinante para a Princesa Isabel assinar a
Lei Áurea em 13 de maio de 1888. É importante destacar que essas ações
coletivas tinham como identidade aglutinadora a questão de classe também. Fato
muito importante para o debate contemporaneamente.
A
definitiva questão: onde foram parar os negros no dia 14 de maio de 1888? Na
transição do sistema escravista para o sistema assalariado, a mão de obra do
negro passa a ser comprada pela burguesia. Assim, o negro vende a sua força de
trabalho para garantir sua sobrevivência. Dessa forma, as condições de trabalho
se alteram muito pouco, alterando-se a forma de exploração dos trabalhadores. Esse debate é que ajudará a explicar a
situação dos trabalhadores nos dias atuais com baixos salários, extensas e
intensivas jornadas de trabalho; sem direito à moradia, à saúde, à educação, à
terra. Na atualidade, convivemos com o grande aparato militar presente nas
favelas brasileiras, que convence a sociedade com o discurso do combate ao
tráfico de drogas, e que sustenta os reacionários argumentos de redução da
maioridade penal, pena de morte, justiça com as próprias mãos e outras
barbaridades. Porém, na verdade, tem a missão de reprimir os trabalhadores para
que não se revoltem contra a ordem vigente. Situação análoga à que os
quilombolas viveram no Brasil escravista.
Outro
ponto importante é a continuidade do trabalho escravo. Quanto mais tecnologia é
desenvolvida e investida, tanto nas fazendas quanto nas indústrias, aumenta-se
a presença do trabalho análogo à escravidão, pois a extração do lucro se dá na
exploração da força de trabalho do trabalhador, no roubo de tempo de trabalho
do ser humano. Os dados são gritantes: o
subprocurador do Trabalho Luis Antonio Camargo revela em 2010 que, “apenas 50%
das denúncias são apuradas. Então, mesmo tendo sido resgatados quase 38 mil (de
1995 a 2010), há ainda um número enorme de trabalhadores aguardando pela
intervenção do poder público, aguardando pelo resgate da cidadania”. A ocorrência tem aumentado no campo e na cidade, de acordo
com a entrevista da Empresa Brasileira de Comunicação (EBC):
Apesar
de a pecuária continuar
como atividade predominante dentre os nomes
que compõem a última atualização da “lista suja” do trabalho escravo, as formas
urbanas de escravidão têm cada vez mais presença. Das 110 inclusões do
cadastro, cuja atualização foi divulgada na última segunda-feira, 30 de
dezembro, dez são de empresas ou pessoas que exploraram em meio urbano – um
total de 120 trabalhadores submetidos a pelo menos um dos quatro elementos
definidos no artigo 149 do Código Penal como caracterizantes de condições análogas às de escravos.
Nessa
situação de superexploração do trabalhador negro, branco, índio, japonês,
boliviano, chinês surge o questionamento: o que fazer para transformar essa
realidade? Ao compreender os processos históricos, fica nítido que a tarefa histórica
de transformar essa sociedade exige a unificação dos vários setores da classe
trabalhadora: os índios, negros, mulheres, LGBT, em torno de uma identidade de
classe que carrega em si as outras identidades.
Viva a luta do povo
negro!
Viva Zumbi e Dandara!
Contra o genocídio
da população negra e favelada!
Por uma sociedade
livre, socialista!
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