Diego Nogueira,
estudante de Serviço Social da UFRJ, militante
do Movimento Quem Vem Com Tudo Não Cansa
e do Coletivo Marxista
É fato consensual entre a esquerda brasileira que a conjuntura no Brasil é outra após as manifestações de junho. Inicialmente contra o aumento do preço das passagens pelo país, incorporaram outras pautas, como o questionamento ao alto investimento em obras para a Copa do Mundo, ao passo que áreas básicas como saúde e educação não receberam a mesma e necessária destinação de verbas. Nesse período, durante a Copa das Confederações, as manifestações colocaram os governos neoliberais de Dilma e Lula/PT e Cabral e Paes/PMDB em xeque, surgindo e ganhando muita força nas ruas a palavra de ordem “Não Vai Ter Copa”, que foi e tem sido entoada em praticamente todos os atos após junho.
Entretanto,
nas últimas semanas, alguns setores dos movimentos sociais – com inserção no
movimento estudantil – aparentemente recuam e apresentam novas palavras de
ordem, como “Na Copa, vai ter luta” ou “Se não tiver direitos, não vai ter
copa”. Em nossa avaliação, tais mudanças configuram-se em erros crassos, significando
um recuo no processo de avanço do nível de consciência da classe trabalhadora,
que sofre diariamente com os trens sucatas da SuperVia e demais formas de transporte
público, que morre nas filas das UPAs e não recebe um atendimento adequado à
Saúde e que a cada dia que passa questiona o porquê de bilhões de reais de
investimentos públicos para um megaevento esportivo. Portanto, nosso papel deve
ser potencializar essas angústias e esses questionamentos, transformando-os em
enfrentamento ao Mundial da FIFA.
Precisamos
nos preparar e nos defender, obviamente, dos ataques da mídia conservadora e do
governo repressor, que estarão lado a lado para garantir o desejo dos setores
dominantes para que a Copa aconteça no Brasil. E é neste cenário que a palavra
de ordem “Não vai ter copa” manifesta mais do que simplesmente a vontade de que
o Mundial não se realize. Ela expressa uma luta direta contra todo o sistema
capitalista que, em busca de soluções para a crise nos países centrais, explora
ainda mais os países de capitalismo dependente para manter suas taxas de lucro.
Além disso, coloca na ordem do dia uma ação concreta e organizada contra os
seus interesses, enfatizando que a luta popular se choca com os planos do
capital. Este pode e deve ser um duro canto contra a política neoliberal que se
aprofundou durante os 12 anos de governo do PT.
Reivindicar
outra coisa diferente da não realização do Mundial – como a diminuição imediata
do preço dos ingressos – é negociar migalhas do capital. É aceitar pequenas
melhorias em saúde e educação, por exemplo, e continuar submetido à lógica do
capital. A estapafúrdia alegação de que as massas possuem o futebol como a
paixão nacional e devemos dialogar com estas, que supostamente desejariam a
Copa, é recorrer ao caudismo, renegar o papel de luta da vanguarda da esquerda
brasileira e, também, ignorar a crescente insatisfação popular com o pacote de
violações implementado pelo megaevento, que deve ser politizada. Alegar que
faremos lutas antes, durante e depois da Copa é uma obviedade, uma
tergiversação, já que enquanto estivermos em uma sociedade de classes,
precisaremos lutar contra a exploração, a opressão, a retirada de direitos etc.
Em suma, o recuo nas palavras de ordem expressa posições reformistas!
Não negamos que vai
ter luta durante a Copa. Lá estaremos lutando firme, ao lado daqueles que
militam diariamente para transformar a sociedade. Todavia, ratificamos que
seguiremos entoando NÃO VAI TER COPA. E que o conjunto da esquerda combativa
faça essa reflexão, unificando as lutas contra os governos e contra a FIFA para
que tenhamos ainda mais força nesse período ímpar que se aproxima, convencendo
o conjunto da classe trabalhadora e da juventude deste país e de todo o mundo a
entoar conosco.
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